Júnior não mora mais aqui
Dois amigos que não se viam há algum tempo conversam:
UM: E o Júnior, seu filho que foi estudar cinema na Califórnia, nunca mais voltou para o Brasil? Deve estar com uns quarenta anos agora, não?
DOIS: Quarenta e três, pra ser exato. Ah, ele só vem aqui a cada três ou quatro anos, ver a mãe, fica nem uma semana e volta correndo pra Hollywood. Tem muito trabalho por lá ainda, muito filme em exibição nos shoppings, graças a Deus.
UM: Sim, mas o que ele faz: é roteirista, diretor, produtor? Ator não deve ser né, senão você nos teria falado pra ver um filme dele, não é mesmo?
DOIS: Quem me dera... Claro que eu avisaria, mas devo lhe dizer que ultimamente ele anda muito preocupado com as novas tecnologias, que estão tirando o emprego de muita gente na tevê, no rádio, no cinema...
UM: Mas afinal, o que o Júnior faz na capital mundial do filme?
DOIS: Trabalha como pipoqueiro num cinema e pelo jeito logo será trocado por uma pipoqueira eletrônica controlada por inteligência artificial.
UM: Nossa! Eu não sabia disso...
DOIS: Tem mais coisa vindo por aí, ele me falou. Que também pode ser trocado por um micro-ondas: cada qual leva de casa sua pipoca preferida e usa o micro-ondas do cinema para estourá-la.
UM: Poxa! Que complicado, mas sabe que essa história poderia dar um filme, não?
DOIS: Poderia mesmo, mas acho que esse filme já foi feito faz tempo: Tempos Modernos, 1936, Charlie Chaplin.
UM: É mesmo, não me lembrava! Sinto muito por seu filho e pela minha sugestão. De todo modo, como dizem, a vida é uma caixinha de surpresas: eu ignorava tudo isso a respeito do Júnior...
DOIS: Mais do que uma caixinha de surpresas, amigo, às vezes a vida é mesmo um filme queimado...