Taxidermia

Taxidermia não é uma epidemia de táxis, nem uma doença de pele.

Basicamente, é o processo de encher com palha um animal morto para que mantenha as suas características naturais.

Há alguns anos, trabalhei por um dia no Museu de História Natural no Parque Edmundo Zanoni em Atibaia.

340 pessoas visitaram o local naquele dia.

A parte mais divertida foi ouvir os comentários das crianças diante de tantos animais empalhados.

- Ai, coitadinho! Esse também morreu... - disse uma garotinha de seis anos.

Talvez ela tivesse esperança de encontrar algum animal vivo ali.

Outra menina, da mesma idade, mais conformada, comentou:

- Todos eles morreram...

Acho que na imaginação das crianças, os bichos foram colocados vivos no museu e depois, por falta d'água, comida e ar, morreram dentro das vitrines. E, para elas, eu era o culpado, o que explicaria uma delas me mostrar a língua antes de ir embora.

Um garoto de oito anos entrou sozinho, deu uma olhada no gavião empalhado e saiu com os olhos arregalados. Voltou com o pai e, sentindo confiança, soltou essa:

- Pai, vem ver. Tudo isso "eles" mataram.

Eles, no caso, era eu. Eu e os meus comparsas. Ou capangas. Como nós éramos maus!

Outra menina, entrando com a mãe, disse:

- Mãe, todos os bichos que estão aqui, antes estavam no parque. Eles morreram. Ou mataram eles.

A menina disse essa frase cinco vezes seguidas.

Só podia ser indireta.

A única criança que não me acusou foi um menino de nove anos que veio correndo do salão do fundo dizendo:

- Vó! Vem logo que vão atacar a gente!

A vó saiu rindo.

Se bem que depois fiquei pensando se o menino não estava se referindo a mim... O "caçador". O homem mau!

Para fechar, uma adolescente de dezessete anos entrou, olhou para os bichos empalhados e perguntou:

- Moço, são todos de mentira?

- Não, são todos de verdade - respondi.

- Deus me livre!

E saiu correndo.

"Deus me livre" se estivessem vivos. Imagina sentir uma fisgada na panturrilha, olhar para baixo e perceber que tem um filhote de onça brincando com você enquanto é observado pelos pais dela, lá no fim do corredor...

Paulo Sérgio PS
Enviado por Paulo Sérgio PS em 07/03/2024
Código do texto: T8014625
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