Mulher pelada.

Sábado, acabo de voltar da rua e parei aqui para relatar um acontecimento inusitado que me ocorreu há instantes. Eu saí para ir à farmácia, aproveitei para caminhar e desarticular as juntas do corpo, para isso deixei o carro em lugar apropriado ainda distante do meu destino e fui tranquilamente pela calçada onde a maioria das lojas já estavam de portas arriadas, uma ou outra continuava aberta no atendimento aos clientes. Era por volta de sete horas da noite, o número de pedestres circulando já era bem reduzido e, naquele trecho que eu percorria, a iluminação fraca da rua não ajudava muito.

Eu andava distraído pelo pavimento enquanto observava detalhes nos carros estacionados rente ao meio fio do meu lado direito, inúmeros automóveis, um atrás do outro, quando, de repente, olhei à frente e avistei um grupo de gente vindo em minha direção, ao mesmo tempo reparei numa mulher preta sob a meia-luz do lado esquerdo quase totalmente desnuda a não ser por um sutiã que eu não sei se bustiê ou algo parecido; era o único traje naquele corpo esguio. Ela estava mais adiante na calçada, usava um turbante na cabeça, seu rosto estava virado na direção oposta e, de pé, ela fazia uma pose elegante; mantinha o dorso das mãos apoiados na cintura, tinha uma perna bonita e bem torneada que estava levemente flexionada e ligeiramente suspensa, enquanto a outra estava bem apoiada no chão e sustentava o seu corpo; à suas costas, um degrau acima, um rapaz moreno, bem vestido e com um boné na cabeça, apoiava um braço sobre o seu ombro; ao lado dele havia mais alguém obscurecido pela penumbra que eu apenas percebi, mas não sei descrever a sua aparência muito menos o traje que vestia.

Aquela despudorada me surpreendeu na sua má conduta, não lembro se pisquei os olhos para limpar a vista, mas garanto que levei um susto; pressenti a presença de uma senhora ao meu lado, diminui o passo e lhe falei em tom de denúncia: - Dona olha só aquela moça sem roupa ali na frente. E ainda faz pose!

Como a senhora à quem me dirigi não esboçou reação, não disse nada, sequer um oi de cumprimento, interrompi a passada e fitei seus olhos azuis. Só então pude perceber que se tratava de um manequim. Ali, todos eram manequins. Não parece coisa de doido?

Pois bem, neste ponto eu já me aproximava da farmácia e caminhava diante de uma loja de roupas que tinha seus manequins em tamanho natural posicionados estrategicamente de um lado e outro na entrada rente a calçada; os funcionários capricham de tal maneira na arrumação de cada um, que, no final eles ficam com a aparência de uma pessoa, um ser humano mesmo, impossível passar diante do estabelecimento e os ignorar.

Precisa dizer mais alguma coisa?

Dilucas
Enviado por Dilucas em 26/02/2024
Reeditado em 10/03/2024
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