Empreendedorismo

Estava caminhando na rua e fui parado por um jovem mendigo que me pediu dinheiro.

Perguntei: é para comida?

Ele me respondeu: não, já comi, um otário me pagou um sanduíche e um refrigerante.

Então, se já almoçou, para o que você quer dinheiro de outro otário?

Para recarregar o celular.

Mas se você vive nas ruas, sozinho assim, vai ligar para quem?

Para ninguém. Só que para vender o aparelho para outro otário, porque este é roubado, ele vai querer testar, então é bom que esteja com créditos, não é mesmo? Acabei com os créditos tentando descobrir as senhas de alguns sites e bancos do trouxa de quem afanei o aparelho, entende?

Claro, vê-se que você é um mendigo inteligente e tem tino comercial. Tome 50 reais.

Poxa, obrigado, espero encontrar outros otários tão generosos quanto o senhor sempre que precisar de algum dinheiro.

Certamente que vai encontrar, principalmente porque você, meu jovem, é bastante educado e ninguém vai se recusar a ajudar um rapaz gentil e empreendedor como você.

Então, senhor otário, vou fazer uma recarga de apenas 20 reais; os 30 restantes vou juntar com o que já acumulei e comprar uns papelotes para revendê-los noutro lugar pelo dobro, porque nesta zona tem muita concorrência.

Faça isso mesmo, meu jovem, empreenda. E apesar dessa nossa conversa estar tão agradável, agora preciso ir. Tenha um bom dia.

Bom dia pro senhor também, seu otário.

Segui meu caminho feliz da vida, pois tinha praticado mais uma boa ação. Tinha ajudado alguém que neste país, tão cheio de oportunidades para roubar, um dia ainda poderia se tornar até mesmo presidente da república, não é?