Trava-línguas do Trava Língua

Caminhoneiro parou em frente ao Morro do Murro, localizado numa das áreas mais perigosas da cidade. Sua parada não foi estratégica, mas sim emergencial, devido a um problema na caixa de marcha do pesadão. Esperto, ele ligou para um amigo mecânico que morava a uns quinze minutos dali. Enquanto o outro não chegava, o caminhoneiro decidiu parar para tomar um refrigerante numa birosca local. Nisso, ele foi abordado por uma figura muito suspeita.

- Aê, cumpadi! O bagulho rindelb cresjk bfgiifx bffjkb frotj de kow, tá ligado?

- Desculpa, não entendi.

- Ô doidão! Tu não pá pum 'ssaparada dos nói brinks zalemão mansin xovê tererê, na moral, já é?

- Bom, agora ficou menos ruim. Eu só entendi o "na moral, já é".

- Tá de sacanation, truta?

- Tô de saca o quê?

- Sacanation!

- Rapaz, eu nunca ouvi essa palavra. Posso estar errado, mas a tradução correta seria "slutty". Mesmo assim, depende do contexto da frase.

- Tu não me entendeu?

- Nada. Você fala muitas gírias.

- Tô aqui há meia hora ness'ibaguio....

- Parou. Repita essa palavra.

- Ness'ibaguio!

- Acho que você disse "nesse bagulho".

- Até que enfim!

- Acontece que você emenda as abreviações das palavras, formando assim algo incompreensível.

- Tenho dislixiz.

- Dislexia.

- Ssaê.

- "Isso aê".

- Coé, bródi. Ficaê que vou xamá un'truta ali pra nóis disinrolá melhó.

- Consegui entender 95%! É uma questão de ajuste. Mais um pouco e teremos uma conversa tranquila, sem a necessidade de ativar legenda. Vamos lá: mantenha a fluidez da sua última fala e diga outra frase.

- Pô, oszóios hgf jhdryk caô hydlo, aí, pô, uhloyrw heaiphbopbl...

- Esqueça. Vá chamar seu amigo, parça, truta.

Em dez minutos, o outro chegou, mais suspeito do que o primeiro.

- Coé.

- Opa. Beleza?

- Não. Tu ficou de zoação com meu irmão, né?

- Ah, o rapaz simpático que me abordou é seu irmão?

- Positivo e operante! Ele me disse que tu não entendeu as’parada!

- Vamos lá. Parei, pedi um refri e o seu irmão...aliás, qual é a sua graça e a dele?

- Tá me chamando de comédia, brô?

- “Sua graça” significa “seu nome”.

- Tu também usa umas’linguage da época dos Flinstos, pô!

- Flinstones.

- Foi o que eu disse! Meu nome é Mói Tripa e meu mano é o Trava Língua.

- Percebi. Bom, eu disse que seu irmão...mas ele é seu irmão mesmo?

- Qual probrema?

- Voces não se parecem!

- Nós sêmo adulterado! Pais e mães diferentes!

- Adulterado é combustível, meu amigo. O certo é “adotado”.

- Tu é professô, tu?

- Não precisa repetir o “tu”. Só um já basta.

- Eu só falei um “tu”! Tem dois de tu aqui? Tem dois tus? Tá locão no bagulho?

- Esquece...bom, seu irmão me abordou com uma fala incompreensível. Desde então, nossa conversa tem sido catastrófica.

- Verdade, Trava Lingua?

- Tu confia nesse pá pow miola carréx dekloiv doefwe?

- O que ele disse? Só quero entender 20% da frase.

- Cara, isso não vem ao caso! O caso é que tu nunca foi visto por aqui! E nós semo bandidos!

- “Somos”.

- Tu é bandido também, tu?

- O correto é “nós somos”. E não sou bandido, sou caminhoneiro.

- A parada é essa! Nóis sêmo bandidos e achamos teu caminhão!

- Impossível não achar um de caminhão de 8 metros! Vocês vao querer roubar a carga?

- Positivo, correto, exatamente e isso aê.

- Só basta uma dessas palavras. Eu acho que você não vai querer a carga, mas tudo bem. E outra: a caixa de marcha está ruim.

- Seguinte, abre’lá provê que tem nessa carga!

Com a calma de um pajé sonolento, o caminhoneiro atendeu a ordem do bandido.

- Que treco é esse, cumpadi??

- Estou levando 200 caixões para uma funerária que vai inaugurar amanhã.

- E o que vou fazer com isso?

- A logística do crime é coisa sua, companheiro. Estou fazendo a minha parte.

- Cara, mete o pé daqui antes que tu seja o primeiro a ficar nesses caixões!

- Não posso! O caminhão pifou!

- Tu vai ficar com esse monte de paletó de defunto em frente ao morro?? Dá azar!

- Sinto muito. A não ser que você pague um taxi pra mim! Liguei para meu amigo mas pelo visto ele se perdeu no meio do caminho.

- Tome! Duzentos contos!

- Não paguei o refri.

- Eu pago!

- Tinha pedido um sanduiche de provolone.

- Também pago!

- Beleza...ah, você poderia me emprestar uns quinhentos reais? Com essa demora, perdi um dia de trabalho. E não tive culpa...

- Tome! Agora, suma logo antes que eu me arrependa!

- Ah...hoje é o dia do vencimento do boleto da creche dos meus filhos. Mil e setecentos reais, pode me ajudar?

- Tome! Mil e quinhentos! É tudo que tenho! Lá vem o taxi!

- Obrigado pela ajuda, amigo. Daqui a pouco o reboque virá. Ah, o cara deve cobrar uns...

- SUMA!!!!

Assim que o sujeito entrou no taxi, o bandidão deu uma bronca no irmão.

- Quem mandou escolher aquele caminhão??? Tu só faz besteira!

- Tá doido? Eu só shdfhhks uytdfdsf sadf aug dsoie opúfpyigj nóis, ‘tendeu?

- Amanhã sem falta vou retomar os estudos! Não dá mais para te aturar!

Barão do Subúrbio
Enviado por Barão do Subúrbio em 14/02/2024
Código do texto: T7999103
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