Morcegagem

Estava conversando com um conhecido meu aqui do edifício, cinemeiro como ele só, que me recomendou alguns filmes que estarão concorrendo no próximo Oscar. Conversa vai, conversa vem, ele me veio com esta: se o câncer não existisse os estúdios de Hollywood teriam contratado uma equipe de roteiristas de peso para inventá-lo.

Incrédulo, pedi a ele para mudar de assunto que falar de doença não me aprazia, mas ele prosseguiu: afirmou que se a mórbida ideia fosse levada a cabo nos dias de hoje, isso demandaria uns cinco ou seis meses de trabalho, já que os roteiristas ainda se encontram ressentidos com o tratamento que os estúdios lhes deram no passado, motivo da greve encerrada em 27 de setembro de 2023, depois de 148 dias de paralisação.

Ideia executada - ele continuou falando e eu prestando atenção para não parecer desfeita, mas era -, seria um excelente negócio tanto para a medicina quanto para a sétima arte, porque com seus dramalhões doentios e lacrimosos lotariam não apenas os hospitais, também os cinemas do mundo inteiro.

Aí não aguentei mais e falei: "Não lhe passa pela cabeça que nesse tipo de criação, se fosse o caso, os laboratórios chineses seriam muito mais rápidos e eficientes, teriam criado a doença primeiro e depois a vacina para curá-la, enchendo o tesouro chinês de grana como nunca antes na história daquele país?"

E ele: "É mesmo, pode ser... Sabe que não pensei nisso?" Não pensou nisso nem noutras coisas, porque se despediu e foi para seu apartamento tomar uma sopa oriental, aquela de asas de morcegos ou de ninhos de andorinhas, não sei bem.

Eu fui para o meu ver o noticiário na tevê e acabei me divertindo muito com as pornochanchadas que os membros do Judiciário chinês vêm protagonizando com bastante frequência ultimamente. Especialmente um deles, irrelevante ministro que já foi advogado de porta de um conhecido sindicato de lá, desempenho que o premiou com uma vaga no STF de lá.

Vestido de sua capa preta se assemelha bastante a um urubu carniceiro. Ou a um morcego vampiro, pensando bem. O enredo das tramoias e maracutaias jurídicas em que ele participa como ator principal é supremo, quero dizer, muito superior ao de premiados filmes de Hollywood: tem sacanagem do começo ao fim...