O Cantor
Ronaldo José de Almeida
Zé Maria era o tipo de pessoa alegre, baixa estatura, moreno claro, tinha uns 30 anos de idade e ganhava a vida cantando em barzinhos e nas cidades vizinhas, casado várias vezes, seus casamentos não duravam muito; Dizia ele que suas mulheres eram ciumentas sendo a razão das separações.
Realmente Zé Maria tinha razão, visto que a Doroteia sua segunda mulher, certa vez quando este se apresentava no Bar do Nóca e acompanhava a Cresilda, que dava uma “canja”, não titubeou em subir no palco e esbofetear a cantora, sob os olhares assustados da platéia e principalmente do cantor.
O tempo passou e o Zé Maria continuou sua carreira de cantor, correu o Brasil, residiu em várias cidades, casou-se e separou-se inúmeras vezes, dele sempre se tinha notícia, principalmente dos contubérnios.
Certo dia o Zé Maria chegou à sua cidade natal. Ele iria cantar na inauguração do bar do Lourencinho, amigo de infância.
No dia da inauguração do bar, que ostentava o pomposo nome de “Aurora Boreal”, em homenagem a dona Aurora mãe do proprietário, a felicidade era geral, os garçons uniformizados, tudo na mais perfeita ordem.
A família de Lourenço ocupava uma mesa estrategicamente perto da porta, onde recebia os cumprimentos, o palco com iluminação característica para cantor solo, ou seja, um facho de luz tipo néon azul caindo sobre o cantor, o maior luxo, enfim tudo de acordo com o figurino.
Na hora certa Zé Maria subiu ao palco e iniciou o show, agradou demais, ele tinha se tornado um verdadeiro astro. No intervalo sentou-se à mesa de Abílio, Odorico e outros amigos.
- Então Zé, como vai à vida? - indagou Odorico.
- Muito boa velho Odorico, não tenho do que me queixar, estou bem casado com uma mulher que é um verdadeiro monumento, olha ela lá, aquela perto da dona Aurora. – respondeu eufórico Zé Maria.
- Realmente sua mulher é muito bonita, é daqui? – perguntou Abílio.
- Não. - respondeu o cantor - ela é baiana; vou lhes contar como aconteceu à conquista desta morena.
- Eu estava cantando numa cidade do interior baiano; o salão estava lotado, todo mundo dançando, então notei aquela morena linda na minha frente, ela também tinha me notado, estava me olhando, cara eu nem acreditei, era bom demais para ser verdade. – Conte, conte. –insistiu Abílio.
-Pois bem, continuou Zé Maria, - Daí em diante não tirei mais os olhos da morena. Olhe cara, eu já estava separado há mais de um ano da Maria Clara, separado não, ela havia me abandonado. Foi embora com um soldado. Então eu fiz um sinal para a morena, ela entendeu e respondeu com um sorriso. – E daí, continue. – disse Odorico.
-Tudo bem – falou Zé Maria – Eu olhei para ela e entrei com “Carinhoso”, ela vibrou e sorriu para mim, dava para sentir a satisfação em seu rosto, eu senti que ela “balançou” com a música. Quando estava acabando o “Carinhoso” meu amigo, eu ataquei de “Cavalgada” do Roberto Carlos, ela desmoronou-se e apaixonou.
Nada mais disse, nem lhe foi perguntado.