Dádivas da vida (II)
Se a vida te der um gato, é muito provável que um dia ele vá subir no poste, já que as árvores da cidade a tempestade derrubou e no morro árvore é coisa tão rara quanto traficante de animais. Gato no poste, no entanto, quem levará o choque será você quando receber da empresa de energia local uma conta astronômica por ter feito ligação clandestina e furtado dela durante muito tempo todos aqueles kWh que alimentaram seu gatonet e outros aparelhos eletroeletrônicos. Em alguns casos - em muitos, pensando bem - a conta vem acompanhada de uma viatura policial, então esteja preparado para receber os agentes com festa: não vale servir bala a eles, que a vida de um ladrão de luz nunca é doce mesmo.
Mas se a vida te der um bichano de verdade, desses que tem bigode e cauda longa, que miam e ronronam, não faça do seu gato sapato, tamborim ou churrasquim. Seja amigo dele, embora ele jamais irá te dar muita bola mesmo (gatos são extremamente independentes, a não ser gato de madame que é viciado em colo de madame) e jamais declame para ele aquela antiga cantiga politicamente incorreta da mórbida dona Chica, então nada de atirar pau no gato. Declame ou cante esta versão waldicksoriana: Atirei um pau pro gato / mas o gato não pegou, nem se mexeu / e através de seus miados / ele então me respondeu: / eu não sou cachorro não...