BEM DESARRINCADO
“Para o coronel Rui Telo”
Pois, pois, bem desarrincado
“Com propriedade, na mouche”
Assim vai meu palavreado
Com rimas de coqueluche.
Como um marrano voando
Através de um horizonte
Ando sempre escrevinhando
Na planície ou no monte.
Palavras leva-as o vento
Conforme a sua importância
Com mais ou menos talento
E larga ou curta distância.
Haja ou não inspiração
Ou, seja qual for o tema,
A rima está sempre à mão
Para cumprir o sistema.
Sete gatos, sete vidas,
Num enviusado destino,
Até as palavras perdidas
Ganham contornos e tino.
O “palavrear”, só por si,
É caminhar num deserto;
Há palavras que nunca vi
Mas pressinto-as bem perto.
Delas se fazem poemas,
Delas se faz a poesia,
Cada um dos seus fonemas
Revela uma pura magia.
Ir às palavras é uma guerra
Qu´ é preciso apaziguar
Encontrá-las só revela
Nova luz pra harmonizar.
O poeta é um combatente,
Com velhas ou novas rimas;
Nobres causas à sua frente
Pra sorte dos seus dilemas…
É esta a justa bandeira
Que sempre tem desfraldado
E não há outra maneira
De ser mais desarrincado!
Frassino Machado
In ODIRONIAS