Ai! A ansiedade!

Bom dia, Maria. - Eu digo, sem olhá-la nos olhos.

E ela responde: - Booom dia, Bella. - Com uma voz suave. Então, eu saio.

Até aí, socialização aceitável, se não for contar que até chegar na farmácia há muitas pessoas nas ruas. Na farmácia, e em todo caminho de volta. As pessoas sempre estão presentes. É um mundo superlotado.

Mas o clímax do meu sofrimento está no retorno.

Quando chego ao prédio, ao passar pela guarita, a dúvida aumenta: AQUELA DÚVIDA.

Eu falo bom dia novamente?

Mas eu saí e voltei em menos de 22 minutos. Acabei de dizer bom dia à Maria.

Eu digo de novo ou não?

Este pensamento vai me dominando por todo o caminho, desde a farmácia ao prédio.

Se eu falar bom dia de novo, serei repetitiva e posso passar uma má impressão. Se eu não falar, posso parecer mal-educada. O que eu faço?

Se ao menos eu estivesse sem chave, ela poderia abrir para mim o portão, e eu falaria obrigada, assim não entraria em silêncio total. Mas eu estou com a chave!

Respiro fundo de novo, abaixo a cabeça para não dar de cara com o olhar dela. Com uma mão seguro as chaves e com a outra, o coração que saiu pela boca.

Mentira.

Com a outra seguro a sacola da farmácia.

Dei dois passos à frente da guarita, em silêncio, decidida manter-me assim.

Quando ouço uma voz:

- Bella, chegou encomenda para você.

Ufa! Algum motivo para eu falar com ela e não passar reto.

Droga! Vou ter que assinar o caderno enquanto ela olha para mim, agradecer e pegar a encomenda.

- Obrigada, Ma.

- De nada. Está calor hoje, né?

-Sim. - Sorrio sem graça. O que mais eu poderia responder? Eu sei lá o que dizer. Agradeço novamente e aliviada pego a minha encomenda em direção ao elevador.

Agora posso subir paro o apto e chega de pessoas por hoje. É o que penso, até a porta do elevador abrir e a vizinha mais conversadeira do prédio sorrir-me e dizer:

- Puxa! Está subindo? Eu também...

Não sei o que ela falou depois disso. Coloquei o fone, esperei o meu andar e sai do elevador em silêncio.

Só sei que no final, ela disse que sou mal-educada. Não ouvi, mas fiz leitura labial.

Desculpa senhora, toda a minha carga de socialização foi gasta no caminho até a farmácia, na farmácia, na volta da farmácia e principalmente com a porteira...

Ai! A porteira!

Esqueci a chave do apto na garita! Vou ter que ir até a Maria de novo!