Porque Nickinho? Se o nome é Valentim!
Volta e meia recebo email perguntando porque meu apelido é Nickinho, se meu nome de verdade é Valentim. O certo seria Tim, Tino, Val ou qualquer outra corruptela do nome de batismo. Não tem nada a ver. – insistem.
Então pensei bem e antes que algum engraçadinho venha com a história de que meu apelido vem por culpa de, digamos, de alguma parte do meu corpo, vou esclarecer. O diacho é que sei lá porque Nickinho!
Um dia pensei ter descoberto.
Minha mãe ainda viva, torrei o saquinho dela querendo que me contasse como apareceu tão esdrúxulo codinome. Porque como sabem, rico tem apelido, pobre tem codinome. Isso quando não vem acompanhado com o excorchante “vulgo” como comumente aparece na televisão. A polícia prendeu José de Souza, vulgo Caximbo, de posse de um aparelho televisivo marca Telefunken. Fala a verdade, é de doer!
Aí Dona Júlia explicou do jeitão mineiro dela:
- É quiquando cê nasceu, a Nena( minha irmã mais velha um ano e meio) perdeu o colo e te chamava de Cavalinho. Daí virou Linquinho.
Mas cá entre nós: o que tem a ver uma coisa com a outra? Se meu apelido fosse Valinho, Asno ou usando muita criatividade, Aiousilver, tudo bem, teria lógica. Mas. . . Linquinho?????
Ah! Deixa eu explicar o Linquinho aí de cima.
Acontece que mudei meu apelido. Rarara! Aposto que não sabiam!
Até meus quinze, dezesseis anos era chamado por todos os conhecidos e primaiada por Linquinho. Gostava dele, coisa e tal e tal e coisa, mas começou dar confusão.
É que aqui em Bitinga City, onde nasci e moro até hoje tinha um cara, mais ou menos com a mesma idade e o apelido era Lindinho.
E daí? Vocês poderiam perguntar.
Acontece que o carinha era filho de pai rico, diretor duma escola no centro, amigo dos bambambans, sócio do Rotary e a mãe . . . Bem, a mãe do Lindinho era freqüentadora assídua da alta sociedade, vivia se bronzeando no Clube dos Bancários e amiga do prefeito.( Aliás, um tio dele era vereador).
E eu? Bem, eu não era o que se poderia dizer pobrinho de tudo mas estava ali, no risquinho. A gente não tinha casa própria, não tinha carro, não tinha teve. Só um radião tipo vitrola que pegava bem a Rádio Ibitinga pra minha mãe escutar as novelas.
Só que isso não era vantagem nenhuma. Como diziam na época, era só bater dois pedregulhos que também pegava a emissora. Só tinha ela nas redondezas!
E para complicar ainda mais, o tal Lindinho parecia comigo. Mesma feição. Cara de um focinho do outro! Digamos que ele era assim, um eu melhorado. Comia bem, vestia bem, falava bem, tinha amigas bem.
Ieu? Nessa época trabalhava numa funerária, cobrindo de pano roxo os esqueletos de madeira. Ô coisa humilhante! Vez em quando um xarope me chamava de Zé do Caixão ou Defuntino, só pra azucrinar!
Os problemas começaram quando as amigas da gente passaram a misturar as bolas. As minhas , sei não, acho que davam uma de Mané pra se aproximar do sujeito. Sacumé, cartazaço prelas andarem de prosa com o galãzinho de meia pataca. Já as dele( tadinhas) confundiam mesmo. Era um tal de eu estar passando e elas lá de longe, do outro lado da calçada, gritarem:
- Ô Lindinho! Vamos lá em casa ouvir o disco novo do Roberto Carlos!
Eu entendia Linquinho e ia. Mas era chegar perto, elas verem minhas roupas, meu cabelo sem trato, as espinhas na cara e:
- Desculpe! A gente se confundiu.
Até aí tudo bem! Mas era batata! Saindo de fininho sempre ouvia, elas não fazendo a menor questão:
- Gente! Como é que fomos confundir o Lindinho com esse pé-de-chinelo! Ói que cara feio!
Vou confessar pra vocês: era humilhante pra dedéu!
Um dia cruzamos numa brincadeira dançante. Ele com a cara cheia de Campari, eu de Rabo-de-galo e pinga com groselha, resolvemos aprontar.
Bebemos um pouco mais ( ele pagando)e segredou no pé-da-oreia que tava a fim de meter o pé na bunda duma menina. Disse que ela enchia muito o saco, que pegava no pé, que tava a fim de coisa mais séria, etc. etc. Quando mostrou a gata, Rapais! Que coisinha gostosa! Ela tinha tudo em cima. Nada faltava. Teve jeito não. Pedi pra deixar comigo que eu dava o cartão vermelho. Afinal de contas a gente tinha ficado amigo e piriripororó, creu.
Falou que meti a mão na jaca, né? Quinada! Trocamos de roupa( fiz ele acreditar que assim seria mais fácil enganar a “coitada”) e aproveitei a noite. Nunca tinha nem chegado perto duma deusa daquela. Lá ia dispensar? Nem morto!
A menina vibrou! Cria que era o Lindinho e não deixou barato. Queria porque queria conquistar de vez o belezão. E quem aproveitou a quermesse fui eu.
Daí por diante para evitar confusão( que o carinha ficou puto da vida comigo, porque a menina não deu mais sossego prele)mudei o codinome. Troquei o Lin por Ni. Ranquei fora o qu e tasquei um ck pra ficar mais incrementado.
E ficou, né?
Nickinho é bem melhor que Niquinho.
Que é bem melhor que Linquinho.
Eita apelido furreca! Coisa de pobre mesmo. De marré, marré, marré!
Se bem que Nickinho, apesar da classe e dos volteios, volta e meia agüento umas gozaçõezinhas também. Trudia brinquei com um amigo, o Leopoldo Sliwac aqui do Recanto e chamei ele de Leopoodle, por causa do sobrenome alemãozado e sabem como ele devolveu a gozação?
Sabem não?
Pinickinho!
É mole???
Ra! Mas a Joana Toda Pura, do Recanto tumem, me chama de Richard Gere. Deve estar precisando de óculos, mas que é bom, ichi, como é!