Poderoso e Ordinário

- Dona Zuleica? O que é que o Lira é do Lula?

- Hummm! Chantagista?!

- Sério, dona Zuleica! É ministro?

- Ôxi, Helena! Você sabe isso. Ele é presidente da Câmara dos Deputados. É ele quem decide o que segue para votação, ele faz articulações para garantir aprovação ou rejeição de propostas.

- Então é poderoso, né?

- Um pouco menos, agora, com o fim do orçamento secreto e com a enxurrada de acusações contra ele que estão surgindo ou ressurgindo.

- Pois é. É disso que eu queria falar. Você viu a entrevista da ex-mulher dele?

- Vi, sim. Ainda bem que ele não conseguiu impedir a divulgação, apesar de ter tentado.

- Ele quis?

- Ele processou o ICL e a Agência Pública, para censurar as notícias contra ele.

- E conseguiu?

- Não. Foi muito criticado e teve o pedido de retirada das reportagens do ar rejeitado na justiça.

- Bem feito! Fez o que fez com ela e queria esconder.

- Por muitos anos, ele escondeu. Disse que ela perderia a guarda dos filhos… E ela acabou retirando as acusações, fez as testemunhas mentirem.

- Gente!

- Eu já sabia que ele tinha várias acusações por corrupção e que se livrou de várias delas por questões processuais. Outras estavam suspensas no STF e estão sendo desenterradas agora. Mas nunca imaginei que fosse tão bandido.

- Pelo visto, basta ser poderoso.

- Acho que não. Você vê. Um dos homens mais poderosos do Brasil, hoje, é o Alexandre de Moraes. E nunca vi nenhuma acusação contra ele, que não seja dos mínions, sobre uma falsa “ditadura da toga”.

- Esses mínions! Você viu os bocós que ameaçaram ele lá no aeroporto?

- Chegaram a bater no filho dele. Gente burra! Já começaram a desconversar, pedir desculpas…

- Não deve dar em nada, né?

- Pelo contrário, Helena! Parece que há imagens de sobra comprovando as agressões e eles devem ser exemplarmente punidos, para evitar que outros iludidos façam o mesmo. O nome disso é terrorismo doméstico - ameaçar representantes das instituições democráticas para evitar que elas atuem contra os ditadores. Você vê. Mesmo sabendo que se manifestar contra essa truculência poderia ajudar nos processos contra ele, o Bozo segue caladinho, porque se defender alguém do STF, derruba a tese de que é um perseguido.

- E, você acha que, se ele falasse alguma coisa, faria diferença?

- Sim e não. Tem dois tipos de mínion. Tem os que respeitariam um pedido dele para pararem de atacar a democracia, e tem os que, ainda que tenham comprado todos os discursos conspiracionistas dele, já entenderam que ele é só um salafrário, que abandonou a “causa” pra livrar o próprio couro.

- Tem mais um tipo.

- Tem?

- Tem! Você não viu o vídeo? O moço mostrando os preços no supermercado, dizendo que tudo está muito mais barato com o Lula e que o Guedes não fez nada para melhorar a situação do brasileiro e que o bozo dizia que carne era artigo de luxo…

- Eu vi! Você tem razão. É o arrependido. Acho que, no final, é isso que vai trazer essa gente de volta à realidade. Os números não mentem. Tá tudo muito melhor agora.

- Mas pode melhorar, muito ainda.

- É, Helena? Como?

- Os preços mais baixos e meu salário mais alto, por exemplo.

- Seu salário não está mais alto.

- Então…

 


Texto publicado em minha coluna de hoje no Alô Brasília
https://alo.com.br/poderoso-e-ordinario/

Imagem gerada pela IA Dall-E
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