Dancing (singing) in the rain
Um dia o meteorologista achou que não havia mais clima entre ele e a namorada, então o romance esfriou abruptamente como se um ciclone extratropical tivesse se abatido sobre o casal. Principalmente porque emocionalmente ele não era lá um sujeito muito estável, estando a garota sujeita a chuvas e trovoadas por ele desencadeadas. Mas ela o queria mesmo assim, fizesse sol ou chovesse, não importava, seu guarda-sol e o guarda-chuva a protegiam das intempéries reinantes: assim ela pensava.
Mesmo que depois da tempestade sentimental (causada por uma avalanche de ciúmes) por que passaram, a bonança e os bons ares não tivessem vindo para consertar o estrago, a vida deles seguia em frente. Na calmaria, pelo menos para ele, que logo arranjou outra garota num barzinho que frequentava perto da estação meteorológica de trabalho, onde o tempo científico e o tempo vivido pareciam ser sempre o mesmo, não passava. Henri Bergson tem uma boa explicação para a diferença entre esses tempos, pois era filósofo e não meteorologista, um completo desconhecido por ali.
A ex-namorada, no entanto, ainda pensava no rapaz, e um dia chorou cataratas do Iguaçu, muito mais abundantes do que as do Niagara, quando viu na tevê uma reprise daquele famoso musical de Hollywood de 1952, lá se vão tantos anos, Cantando na Chuva. Um filme que efetivamente foi feito para rir e cantar e não para chorar, apesar daquela molhadeira toda. E que, no caso, apesar da inúmeras danças e belas canções, somente fazia com que ela sentisse muita saudade dos bons tempos de namoro, por vezes passados no escurinho do cinema.
Resumindo o boletim do tempo: ao contrário do que diz o dito popular, nem sempre quem canta os males dos outros espanta (talvez nem mesmo os seus). E olhe que Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor, os astros do filme, cantavam todos muito bem. Ela não, coitada, apenas dançou...