Loucuras nucleares

Nesses dias de junho de 2023, quase um ano e meio depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, ainda não sabemos como vai terminar a guerra por lá. O que sabemos é que no recente Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, Vladimir Putin disse que seu país poderia usar armas nucleares caso se verificasse algum tipo de ameaça à integridade territorial ou à existência do Estado russo. Mas antes ele já havia dito que as armas nucleares recentemente posicionadas no vizinho Belarus, aliado da Rússia, seriam um alerta ao Ocidente, especialmente aos países que formam a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO). Quer dizer, o negócio é mais embaixo, voltado para a destruição da Ucrânia se necessário...

Ameaças nucleares russas não são coisa recente, se verificarmos um episódio específico da Guerra Fria relacionado ao controle estratégico de Berlim, em 1961, tendo de um lado a antiga URSS e do outro os EUA, governados respectivamente por Nikita Khruschov (1894-1971) e John F. Kennedy (1917-1963). Após um encontro entre os dois líderes, Kennedy confessou a Hugh Sidney, repórter da Time, em junho daquele ano: “Nunca conheci um homem igual a esse. Falei que uma explosão nuclear podia matar 70 milhões de pessoas em dez minutos, e ele só ficou olhando para mim, como se dissesse: “E daí?”. Tive a impressão de que ele não se importaria nem um pouco se isso acontecesse.” O mesmo se poderia dizer de Vladimir Putin agora, não é?

Bem, mas além da loucura - ou da mistura de política com vodca, lembram do presidente Boris Ieltsin? -, que parece ser uma característica dos presidentes russos, nos tempos de Khruschov nem tudo era, digamos assim, uma desgraça. Havia aqueles que viam no comportamento do governante motivo para anedotas. A Rússia de então, quer dizer, a URSS, podia ser uma potência militar, mas seus cidadãos não tinham suas necessidades básicas plenamente satisfeitas porque o socialismo estava muito longe de ser um paraíso, como sabemos muito bem. O reconhecimento das deficiências soviéticas inspirou internamente uma sucessão de anedotas, como essas duas que transcrevo em seguida, citadas no livro de Frederick Kempe, Berlim: 1961 (Companhia das Letras, 2013).

A primeira anedota:

“P. De que nacionalidade eram Adão e Eva?

“R. Soviética.

“P. Como é que você sabe?

“R. Porque eles andavam nus, só tinham uma maçã para comer e, mesmo assim, estavam no paraíso.”

A segunda anedota, além do premiê russo envolvia o presidente americano e também o francês:

“John Kennedy procura Deus e pede: ‘Dizei-me, Senhor, quantos anos meu povo tem de esperar para ser feliz?’

‘Cinquenta anos’, é a resposta. Kennedy chora e vai embora.

Charles de Gaulle procura Deus e pede: ‘Dizei-me, Senhor, quantos anos meu povo tem de esperar para ser feliz?’

‘Cem anos’, é a resposta. De Gaulle chora e vai embora.

Khruschov procura Deus e pede: ‘Dizei-me, Senhor, quantos anos meu povo tem de esperar para ser feliz?’ Deus chora e vai embora.”

Para não dizer que citei apenas anedotas do tempo de Khruschov, aqui vai uma sobre o atual ditador russo, já não tão recente, que pode ser facilmente encontrada na internet:

Três políticos participam de um comício eleitoral: um democrata, um comunista e, claro, Putin.

O democrata diz: "Prometo a todos que votarem em mim que eles viverão como nos Estados Unidos".

O comunista diz: "Prometo a todos que votarem em mim que eles viverão como na União Soviética".

Putin diz: "Prometo a todos que votarem em mim que eles... viverão".

Humm...