A SURPRESA
Ronaldo José de Almeida
Olair tinha um bom comércio de secos e molhados e uma boa condição financeira, sendo considerado um bom partido pelas famílias casamenteiras da região.
Conheceu, certa ocasião, Carmem Lúcia, morena de encher as vistas. Ambos apaixonaram-se, passando a viver em concubinato.
Após três anos de ampla felicidade, ela se engravidou, o que, ao contrário de alegrias, trouxe discussões seguidas pois que Olair não queria filhos.
Antes mesmo que o rebento chegasse, houve a ruptura da vida a dois. Carmem Lúcia foi morar em outra casa, sendo pensionada por Olair, com prazo fixado para tal obrigação até que o filho ou filha completasse dezoito anos.
Meses depois nasceu uma linda menina, a qual, embora reconhecida legalmente pelo pai com o nome de Maria Adelaide, dele não recebeu nenhum carinho.
Todos os meses, no dia cinco, a filha, a mando da mãe, procurava o pai para receber a pensão, o qual a pagava contrariado e com impolidez. E assim se passaram dezoito anos.
No mês em que Maria Adelaide completou dezoito anos, ao procurar o pai para receber a pensão, percebeu a felicidade estampada em seu rosto, fato que nunca tinha visto antes. Logo ficou sabendo o motivo.
- Olhe aqui sua última pensão, seu último cheque. Dinheiro meu vocês não verão nunca mais – explicou-lhe Olair com um sorriso nos lábios e estendendo-lhe a mão com o cheque.
Com humildade, a filha recebeu o cheque do pai, o qual ainda fez uma recomendação impositiva:
-Olhe. Este é o último mês que pago a pensão. Sua mãe não tem mais direito. Gostaria de ver a cara dela agora. Só quero saber doravante como vocês viverão daqui em diante!
- Acrescentou, concluindo:
- Diga isto a ela e volte aqui, em seguida, para me contar como ela reagiu a noticia. Quero saber como ficou a cara dela.
Sem responder, a moça saiu rapidamente e chegou em casa chorando pela grosseria do pai. A mãe recebeu o cheque e ouviu o recado.
Minutos depois, já recomposta, a filha retornou ao estabelecimento comercial do pai, que, ao vê-la entrar, caminhou rapidamente na sua direção, sob os olhares curiosos dos amigos e fregueses, perguntando-lhe:
-E então, menina o que a sua mãe disse?
A menina de cabeça baixa, respondeu-lhe:
- Ela mandou dizer-lhe que você não é o meu pai!