Águas mornas (Escárnio)
Lentamente a tempestade arrefece. O céu de um cinza muito escuro, que cuspia raios e arrotava trovões, já silencia. O vento que era ventania, agora é um sopro leve de esperança.
Naveguei por águas tortas que surravam o casco do barco, a nau prestes a ser engolida para as profundezas do desconhecido. Naveguei solitário e sem velas, o leme já perdido, a esperança quase morta. Naveguei sem um porto seguro à vista, sem um farol para mostrar a direção, o caminho. Mas, quando tudo parecia tão perdido, um sopro de esperança, a farmácia e suas fórmulas mirabolantes.
Doses generosas de Rivotril,Carbonato de Lítio e Lexotam afastaram a tempestade e, como num passe de mágica, o mar tornou-se uma pequena banheira de águas mornas e muito calmas.