A GOSTOSONA
Ronaldo José de Almeida
Como sempre fazia pela manhã Gaudêncio encontrava-se sentado à mesa do bar de Filogônio, rodeado de amigos também aposentados, degustando algumas cervejas. Ali se discutiam e resolviam os problemas do mundo, alguns dos partícipes sabiam até o esconderijo de Bin Laden.
A boa conversa corria solta e de vez em quando se ouvia uma sonora gargalhada vinda de outra mesa, também muito animada. Era uma alegria total.
Quando se aproximava o horário do almoço, uma linda morena de cabelos soltos, olhos verdes e corpo escultural aproximou-se da mesa de Gaudêncio e muito irritada de dedo em riste iniciou um desfile de impropério contra o aposentado:
-Malandro, você me deixou esperando e nem deu noticia. Fiquei até tarde da noite a sua espera e não apareceu. Posso saber o motivo? Pois é, faça o favor de não me procurar mais, seu pilantra, malandro. Quando me conheceu ia todo santo dia lá em casa, agora não vai mais e nem avisa. Vagabundo deve ter arranjado outra boba que nem eu. Me esqueça, e reze para que eu não esteja grávida, senão, já viu!
A moça falou o que bem quis e foi embora. Gaudêncio não abriu a boca, ficou caladinho ante o chilique da gostosona. Também se tentasse se manifestar poderia ser agredido pela moça, tal era o seu estado de nervos. Porém manteve a elegância que lhe era peculiar.
As pessoas presentes, amigos e conhecidos de Gaudêncio, ficaram boquiabertos. Primeiro por ter o homem conseguido à façanha de conquistar um monumento daquele. Segundo por ter feito pouco caso e não comparecido ao encontro.
Perguntado sobre o motivo do descarte da bela, Gaudêncio declinou:
-Tornou-se muito irritante, insuportável, telefona a toda hora, não dá sossego, estou em outra.
Quando se retirou a moça parou na banca de revista próxima e conversou com o empregado conhecido de Gaudêncio, que de longe a observava.
Assim que ela foi embora, o aposentado correu até o amigo e indagou:
-Morcego, quem é a moça que estava falando com você?
-Olhe Gaudêncio, eu não sei o nome, mas ela mora perto da rodoviária, bem na praça, é quase minha vizinha.
-Perto da rodoviária, na praça, muito bem, obrigado.
Gaudêncio entrou no seu carro e rumou para a rodoviária, perguntou e informou de algumas pessoas até que chegou numa mercearia pequena e indagou ao dono, fornecendo os dados característicos da potranca.
-Olhe moço pela sua descrição o senhor procura pela a Astrogilda, filha do seu Minervino. Ela fugiu do hospício ontem, mas o seu pai já avisou ao hospital, eles devem chegar logo para levá-la de volta.