Flexível

O motorista bateu o carro, derrubou um poste de luz.

Embora o veículo tivesse ficado bastante machucado, ele não se danificou - era assim que o sujeito estava vendo as coisas, trocadas.

O policial pediu-lhe então que fizesse o teste do bafômetro.

Tudo bem, ele faria.

Mas confundiu o aparelho com um pequeno telescópio e em vez de metê-lo na boca mirou o céu.

Disse que estava a ver estrelas. Muitas.

O policial, muito gentil, sorriu e tentou ajudá-lo a colocar o bafômetro na boca, que, no entanto, não se abria.

Que parecia somente apta a aceitar coisas líquidas e soltar palavras vãs.

Então o policial disse, em seu ouvido, com toda a gentileza do mundo, que caso ele não assoprasse no bafômetro iria ver muitas estrelas em seguida.

Sem precisar olhar para o céu um mísero segundo.

Apesar de um tanto grogue, pela cara do homem da lei o motorista entendeu muito bem o pacífico recado enviado.

Então meteu o bafômetro na boca e assoprou prontamente.

Enquanto isso faltou dizer que o automóvel era novo, vermelho, e antes do acidente parecia brilhar feito uma constelação.

Era um modelo flexível, consumia tanto álcool quanto gasolina.

O motorista, não. Era movido apenas a álcool e seu tanque estava bem cheio, conforme ficou comprovado no teste.

Ele havia saído justamente para comemorar a compra do carro novo.

Mas isso não tinha sido uma boa ideia, refletia agora, mais consciente da situação.

Verdade que com o carro anterior ele já havia atropelado algumas pessoas.

Porém nunca um poste, não mesmo.

Mas tudo tem uma primeira vez, não é, seu guarda?