Bem depois do crepúsculo
Tarde da noite; é madrugada, na verdade.
Depois de alguma bebedeira, caminhamos de volta para nossas casas.
Conversa vai, conversa vem, então comento com meu amigo de boemia que esses livros de vampiros modernos, vendidos aos milhões, são todos água com açúcar. Os filmes neles baseados também.
Deixam leitores e cinespectadores com saudades do livro de Bram Stoker e dos filmes de Bela Lugosi e Christopher Lee.
Obras que ainda hoje, depois de tantas madrugadas, continuam a meter medo em muita gente grande.
Ele só ouve, não diz nada, não sei se concorda ou discorda do que eu falo. Talvez o assunto o desagrade...
Mas eu continuo: Digo que a depender dos novos vampiros, bonitinhos e glicosados, não demora muito o dia - ou a noite, pensando melhor - em que os descendentes de Drácula acabarão por formar uma legião de morcegos diabéticos.
Ele continua em silêncio.
Então completo: Talvez eles acabem até desdentados, pelo excessivo consumo de açúcar e o consequente surgimento de cáries em seus caninos.
Fico imaginando mais um pouco e então resolvo fazer uma pergunta: Numa madrugada entrevada, quem é que vai querer ter o pescoço chupado por alguma dessas novas criaturas aladas?
Aí ele é rápido, e me responde um tanto preocupado:
"Eu não, Deus me livre!" Depois emenda: "Vamos um pouco mais rápido, que antes de dormir ainda tenho de espalhar umas réstias de alho pelo apartamento..."
Eu retruco: Isso é muito trabalhoso e o cheiro de alho deixa a casa toda empesteada no dia seguinte. E o aconselho: Faça como eu, pendure um crucifixo na parede logo acima da cabeceira da cama e durma em paz.
Ele dá uma olhada para trás, eu também, vemos que ninguém está nos seguindo e então aceleramos um pouco mais o passo.
No mais, fiquem alertas e boa madrugada a todos.