Nomenklatura
Li Crime e Castigo, de Dostoievski, ainda na juventude. Fiquei impressionado com o livro e o reli três décadas depois. Encorajado, então pensei que havia chegado a hora da leitura de outro calhamaço dele, Os Irmãos Karamazov. Mas não. Durante mais de um ano meu exemplar ficou parado na estante, adquirindo lastro. (Como se algum livro de Dostoievski precisasse disso, seu tolo!)
Volumoso, sua leitura me tomaria muito tempo; tempo em que eu poderia ler três ou quatro livros diferentes, até mesmo cinco. Embora a história de Dimitri, Alyosha e Ivan, os três irmãos atormentados - ou seriam quatro, como eram quatro os três mosqueteiros de Alexandre Dumas? - fosse uma obra-prima consagrada, um clássico da literatura universal tanto quanto Crime e Castigo, os outros volumes que eu pretendia ler não estavam no mesmo nível de excelência dos do russo. Não passavam de literatura de entretenimento, ainda que nesse gênero também seja possível encontrarmos muitos livros interessantes.
Até que decidi lê-lo e depois de mais de um mês cheguei ao final, arrependido por ter esperado tanto tempo. Mas não que tivesse sido uma leitura de todo fácil, isso nunca. Curiosamente, uma das coisas que mais me impressionaram foi a quantidade de personagens com nomes estranhos que Dostoievski criou - embora os leitores russos não devam estranhá-los tanto assim, claro. Dentre eles, destaque para Lisavieta Smierdiachtchaia, literalmente Lisavieta Fedorenta. Não à toa seu filho se chamava Smierdiakov. Mãe e filho faziam parte da criadagem dos Karamazov.
Os críticos literários sempre acreditaram que o bastardo Smierdiakov fosse o quarto dos irmãos Karamazov. E como era filho de Lisavieta Fedorenta alguns leitores acabaram imaginando que ele fosse também uma outra coisa, com certa razão. Ainda bem que livros, quando novos ou bem conservados, não exalam odores estranhos, somente cheiro de papel impresso mesmo. E o meu exemplar felizmente era novo.
Outra personagem como nome curioso para nós é a senhora Khokhlakova que, apesar do nome, no entanto não fabricava o conhecido refrigerante gasoso americano em território russo. Não apenas por uma questão de tempo, espaço ou patente, mas igualmente por lhe faltar um hífen no nome.
Porque se assinasse Khokhla-Kova penso que ela seria uma dama ainda mais rica e famosa do que Dostoievski jamais imaginou enquanto escrevia seu livro. Sem dúvida que seria!
Para finalizar, aposto uma Pepsi de 2 litros contra quem apostar que molotov era apenas um coquetel feito basicamente de vodca. Ou que kaganovitch fosse assim uma espécie de diarreia eslava...