E por que a fluência em si é assustadora?
Porque a percepção da fluidez desperta o medo ou mesmo a certeza de perdê-la. Desperta medo/certeza de que ele vai gaguejar. O gago, desde a infância, constrói uma imagem de si mesmo como um mau orador. Essa imagem sustenta a gagueira da fala ao longo de sua vida. Considerando-se um péssimo orador, o gago está em constante estado de alerta para a possibilidade de gaguejar. Este estado de alerta aumenta à medida que aumenta a importância que o gago atribui às situações de comunicação e às pessoas nelas envolvidas.
Esse alerta é importante porque, a partir dele, a pessoa tenta fazer algo para evitar a gagueira ou minimizar a possibilidade de gagueira: trocar palavras que lhe pareçam perigosas por outras que lhe pareçam mais fáceis, inserir sons ou palavras antes daquelas em que antecipa que pode gaguejar, mudar o tom da voz, diminuir a intensidade da voz, falar mais devagar ou mais rápido, falar sem se permitir respirar, inspirar antes de falar, repetir a palavra ou som que precede a temida palavra até sentir que pode dizer isso, entre outros. Mas esse cuidado costuma ser bastante frustrante, pois acaba tendo o efeito contrário ao esperado: ao invés de sentir que sua fala flui livremente, você sente que não tem liberdade para falar como deseja. Sem conseguir perceber porquê, o orador acaba sempre por fazer mais do mesmo; ou seja, tentar diversificar as formas de controle do discurso.