MATUTO SIM, BOBO NÃO.
Ronaldo José de Almeida
O galo cantou pela última vez, o sol começava a raiar, Nereu acordou e ouviu um zumbido vindo de fora da casa onde morava com a mulher Das Dores e os três filhos menores de dez anos.
Sem entender o que se passava, o lavrador levantou-se, e abriu a pequena janela da cozinha.
Muito assustado com o que viu bruscamente fechou a janela e gritou pela esposa que o acudisse:
-Das Dores venha aqui, corre mulher.
-O que foi Nereu? Que barulho esquisito é este?
-O mundo está acabando Das Dores, olhe lá fora.
Resmungando baixinho, a mulher abriu a janela e quase caiu de costas. Sobre o grande tanque de água, pairava um enorme disco-voador, com luzes reluzente circundando-o e emitindo o zumbido ouvido pelo casal.
Nereu e Das Dores, aos poucos foram abrindo a janela, olhando desconfiados e criando confiança, coisa de mateiro, até que saíram da casa e ficaram a observar o objeto voador.
Toda água do reservatório de mais de 50 mil litros, estava sendo sugada pelo estranho objeto.
Do tanque subia uma enorme coluna de água até o disco voador, porém não havia nada que os interligasse, a água subia por sucção.
O casal de lavradores estava abismado, os olhos esbugalhados e de bocas abertas sem saber o que fazer, de repente abriu-se uma escotilha na parte inferior da nave, bem ao lado da entrada da água sugada, da abertura pendeu-se uma escada que se fixou no chão.
Em seguida pela escada desceu um ser de cabeça ovalada, pescoço bastante fino e longo, sem orelhas, olhos grandes, nariz pequeno, braços, dedos e pernas longas, com um traje colante de cor prata e um emblema iluminante no peito, eram traços que pareciam letras desconhecidas.
O ser estranho saiu da nave e deu alguns passos em direção ao casal que se afastou andando de costas, devagar, sem tirar os olhos do ET, estavam apavorados com a visão.
Em seguida saiu outro ser da nave, idêntico ao primeiro, entreolharam-se como se estivessem se comunicando.
Os extraterrestres viraram-se em direção a grande e bonita serra que circunda a fazenda, por alguns instantes ficaram a mirá-la.
Nereu e Das Dores estavam encostados na parede do casebre, não tiravam os olhos dos seres estranhos, e nem pronunciaram uma só palavra.
Da janela do casebre o filho mais velho do casal que a tudo assistia, entusiasticamente disse ao pai:
- Pai, eles estão no filme Guerra nas Estrelas, eu vi na televisão, eles têm armas de congelamento. Cuidado pai.
-Fique quieto Mateus, não fale nada – respondeu Nereu amedrontado.
Os extraterrestres notando que o repuxo da água tinha terminado olharam com insistência para o casal e bem devagar retornaram a nave, a escada foi fechada, o zumbido aumentou e o disco-voador ergueu-se sumindo no horizonte em segundos.
Nereu e Das Dores correram a inspecionar o tanque, e constataram que estava completamente seco, não havia uma gota de água.
A noticia correu e dias depois começaram a chegar jornalistas e estudiosos de ufologia a procura de Nereu.
O casal de lavradores não tinha mais sossego, foram levados a programas de televisão, rádios, e não paravam de dar entrevistas.
Este fato aconteceu no ano de 1.982 com enorme repercussão nacional e até mesmo internacional.
Alguns anos depois encontramos Nereu e recordamos o fato, ele relembrou as viagens que fez para ser entrevistado nos programas de televisão, ainda estava um pouco magoado com as piadas e o deboche dos incrédulos, fatos que até hoje perduram, porém de uma coisa ele gostou muito:
-Olhe meu amigo, de tudo o que mais gostei mesmo, foram ás visitas que recebi dos repórteres. Eles -os jornalistas e visitantes- chegavam e tinham que almoçar, então Das Dores, minha mulher, fazia arroz com frango e mandioca, e eu cobrava caro. Vendi todas as minhas galinhas e ainda comprei as dos vizinhos para atender a demanda. Eles tiravam o meu sossego e eu arrancava o couro deles, cobrava caro o almoço. Bem que este disco-voador podia voltar.