O Exame

Um senhor de certa idade, passando dos sessenta, que nunca fora chegado a exames médicos mais radicais, a não ser análises laboratorias corriqueiras, pois tinha uma saúde de ferro. Colesterol nos conformes, triglicérides de menino novo, glicose abaixo do limite, pressão 13 x 8, tudo no cavaco. Nunca tivera nenhuma doença mais grave, a não ser uma gonorréia quando garotão. Enfim, até aquela altura dos acontecimentos, era uma pessoa livre das chamadas doenças de fim de ciclo. Além do mais era desse metidos a machão. Bem casado, filhos já encaminhados na vida. E ele também com uma vida financeira estável. Tudo bem.

Mas, vai da valsa e lá um dia – sempre tem um dia – ele começou a se queixar à esposa, que algo estava lhe incomodando.

– Sabe mulher. Antes tempos, quando eu ia ao mitório, a urina fazia um arco. Parecia um esguicho de mangueira de aguar jardim. Agora virou numa pingadeira só. Acho que é bexiga. Não sei. Tô preocupado.
Mas, para encurtar a conversa, a mulher aconselhou-o a visitar um médico urologista, E assim foi feito.

Já no consultório, o médico, depois de fazer as perguntas de praxe, falou sério, como sabem fazer os médicos quando estão a dar um diagnóstico desagradável:

– Tudo indica que seja próstata. Não posso afirmar nada ainda. Só após fazer o toque.

–. Toque. Que toque doutor? – foi perguntado o paciente já meio desconfiado.

– Fique tranqüilo. Não dói nada. Tenho que fazer o toque para ver como está a danada da próstata. Vamos passar para a salinha ao lado.

Chegados a salinha, com a assepsia nos conformes, cheirando a  produtos de limpeza, e ao lado uma mesa ginecológica. No recinto só eles dois.

– Tire as calças e deite-se na mesa e ponha a duas penas no aparador – disse o médico virando-se para preparar as luvas, anti-sépticos e o gel lubrificante. Mas quando se voltou, o paciente estava deitado à mesa conforme ele determinara. Pernas abertas, mas não havia tirado a cueca.

– Nãnãnão! Tem que tirar tudo. Quero vê-lo peladinho da silva. Como você nasceu – falou o urologista, já se impacientando.

Tudo bem. O paciente concordou, pois até ali ele estava confiando no médico. Afinal... médico? Mas a partir daí, desconfiado, ficou a observar o médico com mais atenção, e viu o doutor vestir as luvas - e na mão direita uma luva especial - e viu quando ele lubrificava o dedo indicador da mão direita – um dedão deste tamanho - e veio com aquele dedão que parecia uma lança, em direção às partes mais íntimas do ser humano, aí ele sentiu que se não reagisse, estaria perdido, estrilou:

- Epa doutor! Não vá me dizer que está querendo botar este dedo onde eu estou pensando, que eu não vou deixar, não. Aí, até hoje, não entrou nada. Só saiu - e fechou as pernas, levantou-se e deu de mão das roupas, vestiu-se às pressas e foi saindo porta fora, resmungando palavras ininteligíveis, mas que para o médico soaram como se o paciente estivesse dizendo; 
Eu sou um idiota! Sou um idiota!

 

Vinícius Lena
Enviado por Vinícius Lena em 12/12/2007
Reeditado em 12/12/2007
Código do texto: T774367