Muamba

– E aí, dona Zuleica? O que achou do presente pra Micheque?

– O nome dela agora é Misheik.

– Sheik das Arábias?

– Isso.

– Mas, eu não entendi direito.

– O quê?

– Por que tanta confusão?

– Não daria confusão se fosse mesmo um presente entre países. Ele entraria legalmente pela alfândega e seria entregue para a presidência. A bonitona lá até poderia usar, mas não seria dela e ficaria no acervo quando eles saíssem.

– E não era, né?

– Não. Por isso deu confusão. Foi tudo errado, desde o início. Como não eram presentes para o Estado, o ministro sabia que teria que pagar os impostos e, então, escondeu os pacotes nas malas dos assessores e, ao chegar ao Brasil, ele informou que não havia nada a declarar.

– O imposto é caro?

– É cinquenta por cento do valor do bem importado.

– Eita! Dava uns 8 milhões!

– Exato. Mas como ele não declarou, além do imposto, teria que pagar também a multa, de cinquenta por cento sobre o valor do imposto.

– Vixe! Daí foi que ele inventou que era para a Micheq… Misheik.

– Ele deu a carteirada para tentar passar sem pagar o imposto, mas não acho que tenha inventado.

– Por quê?

– Pela quantidade de vezes que a presidência tentou liberar o pacote, até às vésperas da saída do bozo do país.

– E teve a outra caixa, né? Com presentes para homem…

– Sim. Essa passou na alfândega e provavelmente foi entregue ao presidente.

– Mas ele não devolveu? Para o acervo?

– Na verdade, um ano depois da entrada das caixas ao país, ele deve ter imaginado que essa história viria à tona quando perdeu as eleições e deu um recibo de entrega dela na presidência. A ideia era dar a entender que a intenção sempre foi entregar as joias ao erário. Acontece que ninguém sabe do paradeiro desse segundo presente. Há estimativas de que vale mais de um milhão. Ainda é uma boa grana, embora bem menos que os presentes para a mulher dele.

– Ela disse que não sabia de nada.

– Não duvido. Muito provavelmente, os mimos milionários seriam vendidos. O minto tem histórico, já foi acusado pela mãe do zero quatro de se apropriar de joias dela, que estavam em um cofre.

– Sério?

– Sério! Um ladrãozinho de salário de assessor, de auxílio combustível, moradia e paletó, com certeza não teria o menor pudor em botar à venda as calcinhas da ex, se isso pudesse render algum trocado, que dirá joias?

– É. Coitada.

– Bom… Coitada, ela também não é. Pode até ter sido surpreendida desta vez, mas ela sabia das armações do marido e, certamente, participou de algumas.

– E porque o príncipe lá deu esses presentes?

– É costume que chefes de estado presenteiem outros chefes de estado em visita ao seu país. Mas nunca foi registrado um presente desse valor.

– E por que, então?

– Ah! Tudo indica que foi propina. Um mês antes, os Emirados Árabes adquiriram uma refinaria de petróleo brasileira pela metade do valor de cotação: de vinte por dez bilhões.

– Dez BILHÕES de desconto??? Por uns penduricalhos de alguns milhões? Melhor procurar direito. Até eu que sou bobinha, sei que deve ter entrado muito mais muamba por aí…
 


Texto publicado em minha coluna de hoje do Alô Brasília
https://alo.com.br/muamba/

Imagem gerada pela IA Dall-E
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