O casamento do meu filho - mensagem do Barnabé Varejeira.

Bão dia, meu amigo Cérjim. Co a graça de Deus Jesus Cristo Nosso Senhor, bão dia. É,meu amigo, Cérjim, parece que o dia de hoje não tá pa pexe, não. O sol vai, e vórta; e vai, e vórta; e vai, e vórta. Tá indecisa a lâmpa solar. Não sabe o que qué. Se sai da casa, se dorme, se só qué sabê de sombra e água fresca. Eh! sol danado de preguiçoso. Só qué sabê de morcegar. Mermo ansim, com a graça de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo Menino, fio de Deus, e fio de José e da Santa Maria, tá bom o dia, tá bom o dia, tá iluminado com um solzinho fraco, e cas nuvem impedino ele de dá o ar de sua graça, e esquentá a cabeça de todo fio-de-Deus. Mas tá bão, bão demais. Tâmo co saúde, e ca famía, que tá bem tamém, cos amigo do peito, que tamém tão bem. O dia vai ansim que Deus qué que vá. É o dia de hoje dia de luz, que reluz, e treluz, de luz inspirituáu, de luz de inspiração. Não tá do agrado de todos. E quano é que tá?! Nunca, uai! Nem Deus agrada grego e troiano. Nem Ele.

Nasceu o dia de hoje, ansim, cansado, dorminhoco, co canto dos galo, e co cocoricó das galinha, que bota ovo, que hão de sustentá o meu corpo, que a terra há de comê e os verme com ele há de se empanturrá, os comilão, e hão de sustentá, tamém, mia muié, querida e amada, que enlacei no casório, a mia paixão eterna, a mia Beatriz, inguar a Beatriz de um poeta da terra do Leonardo. Ô, paixão eterna, que Deus conserva po nosso bem.

Deixêmo de lero-lero, Cérjim, e vâmo ao que interessa, e o que interessa é interesante, muinto interessante.

Não sô poeta - poeta, e dos bão, é o Gonçarve Dias e o Castro Álvarez, e o Bândera. Eu, não. Eu não sô poeta, não. E tem um ôtro poeta, que é bâo tamém, de Minas. E tamém não tenho talento pa fazê discurso sensaborão recheado de palavreado que ninguém entende, palavreado que só serve pa enchê linguiça e sarsicha e torrá a paciência de todos humilde fio de Deus.

Ô, Cérjim, pense bem: toda pessoa tem um sexto sentido, um só, mas eu tenho cinco; é vredade, Cérjim, eu tenho cinco sextos sentido. Parece absurdo, mas não é, não. São cinco os meu sexto sentido: o Zezinho, o Joãozinho, o Luizinho, o Pedrinho e o Joaquim, meus cinco piôio de instimação. São os meu cinco sentido. Sô privilegiado, Cérjim. Quem tem cinco sexto sentido, cinco piôio que alerta pos pobrema que tão pa contece?! Quem? Ninguém. Só eu. O Zezinho, o Luizinho, o Joãozinho, o Pedrinho e o Joaquim sempre me avisa dos perigo iminente, e dos proeminente, e dos tenente. Eles nunca faia. Tão sempre pronto po que dé e vié. Segura o rojão. E cas unha pega todos rabo-de-foguete. São infalível os meu piôio de instimação, que me presenteia a mim mesmo com um sexto sentido multiplicado por cinco. Eles me avisáro, lá no início da geringonça que fizéro os político que tá muinto mar contada a instória do mocorongovírus, que, tudo indica, e nada indica tamém, é um bicho-papão que só atemoriza bobão. Mata gente? Mata. Mas lobisóme tamém mata, e os descrente diz que lobisóme não existe. Ora, Cérjim, ansim que oví que iria os governadô e os prefeito obrigá as pessoa a construí quarenta antena vi que a coisa não era séria. Onde já se viu tal bobage?! Besteira de doutor dipromado. Gente besta dos inferno. Conta cada lorota pa boi dormí que nem o santo querdita. São pior que o Malazarte, os tinhoso. Bando de mentirão. Bando de estrume, gente mardita, que fizéro muinto mar pa muinta gente, contano uma instória da carochinha, sem pé nem cabeça, de assustá todo óme bão, com a tenção de destruí as vida de todos. Bando de fiótes do inferno.

Não quero, Cérjim, falá mais deste assunto, que é de aporrinhá a cabeça. Agora, vô contá po cê uma notícia de motivá o coração da gente, para esparecê o miolo: transondonte meu fio mais véio, o varão, o primêro dos meu herdêro, o Barnabé, me deu-me pa mim uma notícia que me fez me erguer, de tão animado e feliz, po céu: o Barnabé, o varão, ele mermo me contô a instória, ele, que já é óme feito, ta de namorico, e já faiz um bão tempo, ca Bibi, fia do Rubão e da dona Quiquí; moça prendada a Bibi; sabe cozinhá, fritá, assá, e até perpará içá a menina sabe, que bão! E sabe costurá; é costurêra de mão cheia. Sabe remendá carça, camisa. É moça prendada. É a cara da mãe e o focinho do pai. E ela qué casá co meu Barnabé, que já tá encaminhado na vida; meu fio tem trabaio honesto; é trabaiadô; enfrenta sór e chuva, relâmpo, e pirilampo, e sarampo. Meu fio vai me dá uns cinco neto. A Bibí é muié pa casá, de famia direita, pai e mãe católico, mais ela do que ele. O Rubão, é vredade, não é de í à igreja, não, mas vai; a dona Quiquí traz ele na rédea curta. Ele que farte co compromisso católico dele que a dona Quiquí dá-lhe um sapecão.

O Barnabé, Cérjim, pediu pa Bibi a mão dela em casamento, e ela aceitô. O casório ainda não tá marcado. Mas vai sê saí daqui argum dia, que não tarda. Eu avisarei ocê quano o Barnabé e a Bibi decidí o dia do enlace matrimonial, como diz as pessoa chique. Meu fio pediu pa Bibí, mocinha prendada e bonita que só Deus veno, em casamento, a mão, e não uma, mas as duas. Que felicidade eu tô, Cérjim, ocê não querdita, não magina. Meu fio vai casá ca moça mais bonita do umniverso. Que belezura de nora eu vô te. Que o morfético, o mortiço, o coisa-ruim não estrague a beleza dela; que ele não pense em tal, que desço até o inferno, se ele osá fazé mar pá futura mãe dos meu neto, e com a marreta quebro-lhe o nariz com uma bordoada bem dada no meio da testa, e com o machado fendo-lhe a cabeça de alto a baixo. Meu fio pediu, em casamento, pa Bibí a mão dela, uma só, e vai ficá cas duas, e de brinde vai levá a Bibí intêra pa ele, e até que as morte, a dele e a dela, os separe. A morte vai separá só os corpo, pruque as arma deles viverá junta e unida té o dia do Juízo Final. Depois, é Deus Nosso Senhor quem decide.

Ô, Cérjim, pulei de alegria ansim que meu fio me deu a notícia. Não guento de alegria. É demais alegria po meu coração. Alegria demais.

Mia patroa tá chamano eu, Cérjim. Tenho de dexá o uatesape pa depois. A muié me chama, eu vô.

Então, Cérjim, é esta a notícia que eu tinha pa contá po cê; eu só não digo mais pruque a a mãe dos meus fio tá me chamano. Saiba que tenho mais pa contá. E contá po cê eu contarei em ôtra óra o que tenho pa contá. E o que tenho pa contá não é pôco. A notícia do casamento do meu fio ca Bibí muinto bem fez pô meu coração e pô coração da mia patroa. Tô feliz que ocê nem magina. Se mia patroa dexasse, eu bebia um litro de cachaça, pa comemorá. Daqui uns mês serei vovô. E com a graça de Deus Nosso Senhor.

Agora, despeço-me de ocê, meu amigo, e vô-me embora pa Pasargada. Não sei onde fica esta terra; só sei que é tar terra uma terra de alegria, de felicidade, de poesia.

Té ôtra hora, Cérjim. E que Deus Nosso Senhor proteja ocê e a sua famia. Inté.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 11/02/2023
Código do texto: T7716646
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