SEGURA O BOI!
SEGURA O BOI !
Na véspera do Natal, quando participávamos da “Consoada” na casa de meus pais Zé Carneiro e Cici, o meu sobrinho Luciano, fazendeiro, nos contou que tinha vendido alguns novilhos para um açougueiro e foi encarretá-los na fazenda Baía. Durante o encarretamento, um dos novilhos pulou a cerca do curral e sumiu. Após infrutíferas tentativas de encontrar o novilho, Luciano desistiu da empreitada mas, no almoço citado, após umas doses de whisky disse aos presentes que, se alguém quisesse fazer um churrasco com o novilho, o mesmo estaria liberado. Foi a senha para que o Chiquinho Fernandes e o seu irmão Henrique aceitassem de bom grado a missão. Em seguida, tiveram a adesão do Cacau Fernandes, Saminho, Luiz Otávio, Miltinho Custódio e vários outros especialistas em novilhos. Ficou combinado que a “caçada ao boi” seria na sexta-feira e, no sábado, fariam o churrasco. Na sexta, de manhã, um verdadeiro exército partiu à caça do boi, liderado pelo Chiquinho. Porrete, guiada, chicote, seriam algumas das armas utilizadas na caçada. Rodaram todos os pastos da fazenda e da vizinhança atrás do novilho, e nada ... Quando era visto, desaparecia do mapa. Até que alguém teve a idéia de chamar o Dinei, pois ele possuía uns cachorros especialistas em tirar boi do mato. Assim foi feito. Os cachorros do Dinei partiram para a busca ao boi. Só que os nossos amigos se esqueceram de passar para os cachorros as características do boi, tais como: cor, altura, tamanho dos chifres, grossura do rabo, cor dos olhos, altura do cupim, cor do saco, etc. Depois de muito tempo, os cachorros chegaram tocando uma novilha que não tinha nada a ver com o pato, digo, com o novilho. O Rafael que trabalha na fazenda foi logo dizendo: ”O que faz uma falta de informação...”.Como o dia estava muito quente, resolveram dar por encerrada a “caçada”. Na região todos já sabiam do ocorrido com o boi, pois como dizia um ditado antigo:-“Água pro morro abaixo, fogo pro morro acima e mulher prá festa, nada segura...” Foi o que ocorreu com a notícia do boi.
Na manhã seguinte, quando o Raimundo Bananal foi ao pasto buscar as vacas para a ordenha, nem acreditou no que viu: o procurado boi estava junto com as vacas, na maior tranquilidade...O Raimundo, simplesmente, o tocou para o curral. Assim que o pessoal soube, foi outro alvoroço. Munidos dos apetrechos do dia anterior, apareceram os “caçadores” para dar fim à empreitada. Eu estava pescando na represa e ainda não sabia do ocorrido, quando o Rafael veio correndo dizer-me que o boi estava no curral. Como eu não o conhecia, entrei pela casa e fui até a janela para conhecer o “terrível boi”. Lá chegando, fui avisado pela Edvânia para que não abrisse totalmente a janela, pois o boi poderia fugir de novo. Nesta altura do campeonato, Piranga, Porto Firme, Senhora de Oliveira e outros municípios vizinhos já sabiam que o boi estava preso.
O fato é que abateram o boi, levaram a sua carne para o bar do Saminho, na zona rural Baía, fizeram um grande churrasco regado a cerveja e cachaça Fazendeira que é fabricada ali pertinho...
Quem passasse por ali, de madrugada, ainda poderia ouvir a turma cantando uma das músicas preferidas do Zinho Diogo:
-“ Segura o boi, segura o boi,
segura o boi, que o bicho
quer me pegar...”
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Murilo Vidigal Carneiro
Calambau 29 de dezembro de 2013