Cincão aí, tio?
Nove horas da manhã de sábado, café na mente, pão de queijo no horizonte e jornal impresso esperando com as novidades locais. Um mundo perfeito.
Claro, era um programa de antes da invasão dos celulares: uma caminhadinha de casa até a padaria, dois km ida e volta, subidinha suave na ida, só descida na volta. Sua indumentária invariável para um sábado de manhã: bermuda, camiseta sem manga e sandálias franciscanas. No caminho, olho aqui, olho ali, pressa nenhuma, só ter cuidado nas esquinas, tem a manhã inteira pra curtir devagarinho.
Alguns, porém, ainda estão no batente: semana de cinco dias ainda não chegou para todos. Por exemplo, ali no prediozinho em frente tem um grupo fazendo mudança, agora estão baixando móveis pela escada interna. De repente, uma voz o transporta ao mundo real, com um convite:
- Tio, vai cincão aí?
E aponta pros rapazes suados que estão baixando um guarda-roupas do primeiro andar até a camionete de mudança.
O tio pensa na nota de cinco, agradece e diz, para não desapontá-los:
- Na volta.
Naquela hora lembrou do que a mulher vivia lhe dizendo: - Veste melhor, pinta o cabelo, não anda de chinela, usa cueca. Qualquer hora vão te oferecer um biscate.