O PUM DENTRO DO ÔNIBUS LOTADO

POR JOEL MARINHO

Talvez você que está lendo esse texto nunca teve a necessidade de pegar coletivo lotado para ir e vir do trabalho, a escola ou faculdade. Se você é um desses privilegiados, parabéns porque andar em ônibus coletivo é um dos piores castigos para pobre, eu que o diga.

Pois bem, certo dia vinha eu do trabalho para casa e para minha sorte nesse dia consegui a última cadeira de trás do ônibus, aquela que fica do lado da descarga fumegando fumaça para cima destruindo um pouco mais a camada de ozônio. Estava quente, além do calor usual da tarde de verão amazônico havia o calor da descarga, porém cansado como eu estava depois de um dia inteiro de trabalho em pé encostei a cabeça ali mesmo naquele princípio de “inferno” e já acostumado com aqueles solavancos entre paradas e arrancadas, além dos buracos habituais das ruas acabei me acomodando.

O sono me tomou e o cochilo foi automático por alguns poucos minutos. Trespassado de cansaço tive a impressão de que estava sonhando.

Formou-se rápido uma chuvinha e as janelas foram todas fechadas. O odor das sovaqueiras “passadas” uniu-se a alguns perfumes gerando um cheiro estranho, no entanto, a narina de pobre que com quase tudo se habitua logo se acostumou.

Foi aí que o pior aconteceu. Algum ou alguma infeliz resolveu liberar uma “bomba atômica”, ao estilo àquela que o “filho da Putin” lá da Rússia quer liberar contra os ukranianos. Já acordei gritando:

- Meu Deus, estou na guerra!

Mas era um odor tão insuportável que todo mundo gritava para abrir as janelas já não se importando com os pingos d’água molhando para dentro do ônibus. Lá na frente gritou o motorista:

- Infeliz, desgraçado! Me joga os pedaços que posso até me defender, mas não tenta me matar asfixiado.

Freou o ônibus e desceu correndo para respirar enquanto os passageiros se debatiam e gritavam para ele continuar a viagem e fazer o ar circular. Com a cara de poucos amigos ele retornou e seguiu a viagem.

Enfim, chegou a minha parada. Ao descer, mesmo não sendo religioso olhei para o céu e agradeci aos deuses por ter conseguido sair daquele lugar infernal.

Cheguei em casa e passei direto para o banheiro afim de tomar um banho, pois parece que aquele odor ainda estava impregnado na pele e a minha impressão era ter saído de uma fossa. Enquanto banhava fiquei pensando na alma daquele ser humano, pois pelo odor que ele liberou o corpo já estava em estado de putrefação.

Isso já faz um tempinho que aconteceu, mas ao lembrar ainda tenho em meu olfato a lembrança daquele odor tão incomum, principalmente para liberar em um lugar público, como por exemplo, um ônibus fechado.

Vida de pobre não é fácil, principalmente se ele for usuário de coletivo na região amazônica e por ironia do destino no meio da viagem ele leve o azar de cair uma chuva (na verdade quase certa no final da tarde) e alguém resolva detonar uma “bomba atômica”. É quase morte instantânea.