O ENCONTRO DO SÉCULO

O ENCONTRO DO SÉCULO

Carlos Roberto Martins de Souza

A coisa ia de mal a pior, véspera de eleição, todo mundo preocupado com o clima de guerra entre as principais candidaturas. Juras de amor de ambas as partes. Mas a vida prega peças, com cravos de ferrar burros, e não poderia ser melhor, William Shakespeare se mexeu todo no tumulo, pois nem ele escreveria tal roteiro. Num dia comum, Boçal Nero, entediado com seu fracasso, resolve sair disfarçado de cidadão de bem, ir para um boteco e lavar as mágoas numa garrafa de pinga. Mas o miserável não tem bola de cristal, e as bolas que ele tem, ovos chocos, não são videntes. Se lascou, pois seu adversário número um teve a mesma ideia, e por ironia do destino, escolheram o mesmo boteco de nome sugestivo: “CONFESSIONÁRIO BAR", com uma frase interessante na placa: “Onde a Bebida Entra, e a Verdade Sai". Fantasiado de gente boa, Bozo chega, escolhe um lugar bem discreto, puxa uma cadeira e senta. Tentando não ser reconhecido, foi apressado e não viu que o assento estava sujo, jogou a bunda e refastelou. Não demorou e começou a sentir um odor desagradável, olhou para um lado, para o outro, trancou a bunda e respirou fundo.

Boçal: Porra, tenho certeza que aqui não fiz nenhuma cagada. Ou saiu e nem percebi, pois já nem vejo quando cago.

Incomodado com o mal cheiro, chama Miro, o dono do boteco, e vai reclamar.

Boçal: Cacete! O cheiro de merda está me incomodando, tá insuportável. Que caralho de boteco é este? Tá mais para chiqueiro do que para um bar. Dá para resolver?

O que Bozo não sabia é que sua desgraça estava só começando, o dono da Birosca, um sujeito observador, logo percebeu que havia um frustrado ali precisando de ajuda. Pior, mesmo usando óculos escuro, baton na boca, peruca loira, e vestidinho rosa colado, não conseguiu esconder quem de fato era. Foi descoberto!

Miro: Não acredito! O diabo me traiu, meu estabelecimento é um lugar de respeito, e agora ele me joga esta porcaria aqui? Mandaram uma puta velha para me atazanar.

Bozo: O que o senhor disse? Vou chamar a policia, isto é prática homofóbica, dá cadeia.

Miro resolve tirar um sarro com a putinha disfarçada, vai no jardim, pega um cravo de defunto, chega bem no ouvido da bichona e se derrete todo. Óbvio, era só o começo da gozação.

Miro: A madame me perdoa, mas é que eu conheço um picareta, fantoche de presidente, o filho de uma égua tem os mesmos tique tique que a senhora, pensei até que fosse da mesma família. Vai, me perdoa, aceita este cravo, é de defunto, mas ajuda a disfarçar a catinga deste perfume Jequiti que o senhor está usando.

Bozo: Seu mula sem cabeça, me respeita, pois tenho meus direitos, posso me vestir como eu quiser, além do mais, estava pensando em convidar você para irmos conversar um pouco nas margens do Paranoá.

Miro: Sai fora capeta, bicha louca, não sou gilete como você, não preciso de fetiches, muito menos sou frustrado.

Bozo: Sua anta, vai, vê se acha o que está fedendo, limpa, pois estou pagando e tenho meus direitos.

Miro: Tem o que? O cara que eu conheço e que parece com a senhora também fala muito nos direitos dele, é arrogante, ignorante e vive ameaçando os adversários.

Bozo: Não estou aqui para ouvir fofoca, limpa esta porra e traz logo uma pinga, já falou ddemais.

Miro foi lá, “mijou” no copo, botou álcool, jogou um limão galego, pegou e levou para a menina mimada tomar.

Bozo: Mas esta coisa tá quente, nunca tomei desta, de que cana saiu esta porra?

Miro: Vejo que o senhor tem um paladar aguçado, reconhece até porra. Esta pinga saiu da cana mais nobre, é alambique particular, é produzida em pouquíssima quantidade, ela é adubada com ovos. Veio direto da fonte especialmente para o senhor.

Miro ficou irritado com o tratamento, e ai foi logo abrindo o jogo, mostrando que disfarce em gente feia, só piora a situação.

Miro: Levanta Presidente, sua quenga, ou o senhor cagou nas calças, ou sentou no banco onde o Artur Lira sentou a pouco. É, ele também veio aqui disfarçado de honesto, estava com uma cara de santo e tinha uma bíblia na mão.

Bocal: O moleque, vamos fazer um acordo, você finge que não me reconheceu e eu lhe pago uma boa propina, você pode até fechar esta porra.

Se entenderam, chegaram a um acordo, mas não perceberam que um outro cliente chegara, com o lugar cheio, vendo uma cadeira vazia na mesma mesa da bichona, foi negociar. Afinal, num boteco pinguço é amigo de pinguço, mesmo não se conhecendo. O tal cliente era o Lula e estava vestido de trabalhador, tinha luvas nas mãos e um capacete. Era também um disfarce.

Lula: Companheira, vou ocupar esta cadeira, ela está vazia e improdutiva, e não gosto disto. Tem uma coisa gata borralheira, conheço está boca espumante, este riso de psicopata, e este jeito da mão imitando um trezoitão não me é estranha. Esse zóio de assombração me é familiar.

Bocal: Filho da puta, sou presidente, tá oquei?

Lula: Tô farejando confusão. Isso aí parece encosto, vou precisar me cuidar. Mas diz uma coisa seu Jair, o que levou o indignissimo a se fantasiar de fru fru? A banana caiu? Os ovos chocaram? Vai, conta de onde veio este fetiche. Me desculpa, mas nem se me pagarem toda a grana do mundo eu tenho coragem de sair com a madama. Se a senhora chegar no inferno, não fica ninguém!

Bozo: Este negócio de companheira eu já ouvi, esta língua presa não me é estranha, você é o maldito Lula, meu algoz. O que você veio fazer aqui?

Lula: Também fui presidente, meu chapa, sei como encarar as fraquezas, a vida me ensinou e até a prisão foi uma escola. Nunca precisei me esconder do povo, você e seu amigão Sérgio Morto é que tentaram me esconder, até me fantasiaram de presidiário, mas a justiça é justa, estou livre, e ao contrário de você, cai nos braços do povão. Você? Você caiu em desgraça.

Bozo: Eu prometi “mundos e fundos", o mundo não me deu bola, e o povo acabou tomando nos fundos.

Lula: Sou um cara que todo mundo respeita, já corri o mundo, já passei por cinquenta países, sou querido pelos pobres, mas sou o terror da direita. Pinguim de direita tem calafrios só de sentir meu cheiro.

Bozo: Miro, vim aqui refrescar os miolos, você maldito me descobriu, vou dizer uma coisa, nem tente passar ZAP para ninguém, se fizer, sua alma será encomendada, vou mandar vestir esta minha fantasia em você, tirar umas fotos e ficaremos quites.

Bocal Nero ouvido aquilo do Boca de Pinga empalideceu, o suor como água correu, a garganta emudeceu, as pernas tremeram. Para escapar da desgraça, montou numa moto e escafedeu. Ele lembrou que a cúpula no inferno segue a Constituição, lá eles tem o Supremo Tribunal Infernal com toda a organização, e a justiça é independente. Vislumbrando sua vida futura, passou o filme na cabeça, lá até mesmo Satanás, que lá é presidente, acata as decisões, o Capeta é muito obediente.

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 07/08/2022
Código do texto: T7577316
Classificação de conteúdo: seguro