O SHOW
RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Leocádia dirigiu-se, a passos largos, ao Salão de Beleza Rainha. Ao aproximar-se, sentiu um forte cheiro de acetona e esmalte. Adentrou-se ao ambiente, sendo bem recebida pela dona do estabelecimento, a qual foi logo lhe dizendo:
- Léo, minha querida, aguarde um minutinho só que irei atendê-la!
A cliente sentou-se no confortável sofá, apanhou uma revista de fofocas de televisão e começou a folheá-la.
Minutos depois, a proprietária do salão chamou-a: - Como quer o corte?
- Olhe, Assunta, hoje vou jantar e assistir ao show na Churrascaria Gaúcha. Assim, preciso fazer as unhas e fazer uma boa escova nos cabelos. Quero sentir-me poderosa! Quero ficar igual a Adriane Galisteu.
- Deixe comigo, minha amiga, você vai abafar! - respondeu a profissional.
Conforme garantiu, Assunta deixou Leocádia deslumbrante, os cabelos loiros estavam maravilhosos, realçando seus belos olhos azuis.
Bastante satisfeita, a moça voltou para casa. Ali, todos a cumprimentaram pela beleza que ostentava.
Realmente Léo era uma bela moça. Desde pequena era convidada para as festas da cidade, mormente do grêmio estudantil, para representar figuras de mulheres de vulto.
À noite, Zelito, seu namorado, chegou, elegantemente trajado, e, antes que tocasse a campainha, a porta foi aberta pela namorada, muito sorridente.
Zelito arregalou os olhos, não contendo a sua admiração: - Leozinha, você está um luxo, magnífica. Nunca vi alguém tão bonita.
- Muito obrigado, minha paixão. Você também está muito elegante - a loura devolveu-lhe o elogio.
- Veja, já reservei a mesa. Estão dizendo que o show é ótimo. A churrascaria vai lotar - disse-lhe Zelito.
- Que bom, Zelito, mas não precisa comprar ingresso? - perguntou Léo.
- Não, meu amor. Quando reservei a mesa, o rapaz da churrascaria explicou que, além da despesa, será cobrado um tal de couver artístico, uma taxa que é para pagar o artista.
- Nunca ouvi falar disso.
- Então, vamos meu amor?
Quando chegaram, a churrascaria já estava lotada. Como sempre, Leocádia atraiu os olhares, fazendo Zelito inflar-se de orgulho.
Tendo saboreado um churrasco e degustado um bom vinho tinto, o casal aguardava o início do show.
Zelito tomava o último gole de vinho, quando o locutor anunciou a entrada do famoso ventríloquo Mister Bryan.
As luzes se apagaram e um facho de luz zenital, proveniente do teto, foi direcionado para o artista, iluminando a cena verticalmente.
Feitas as saudações iniciais, o ventríloquo começou o espetáculo. A platéia aplaudia maravilhada.
Em dado momento...
-Meus amigos, agora vamos falar de mulheres, a maior criação do Senhor. É isto mesmo, pois, se Deus criou algo melhor, eu desconheço; deve ter guardado só para Ele - abriu a sua fala o artista.
Continuou:
- Vinha uma loura andando pela calçada, quando avistou uma casca de banana à sua frente. Ela parou, olhou a casca de banana, e pensou: “Acho que vou escorregar de novo?”
A platéia vibrava, e durante todo o espetáculo foi assim. Mister Bryan fazia piadas sobre louras com o seu pequeno fantoche sobre o colo, lapso de tempo em que ele sequer demonstrou algum cansaço.
De repente, Leocádia levantou-se, sob o olhar assustado de Zelito, dirigindo a sua voz para o local da apresentação do artista:
- Já ouvi o suficiente das suas piadas denegrindo as louras, seu babaca. E fique sabendo que não gostei nem um pouco. O que o faz pensar que todas as louras são iguais? Existem louras burras, mas também existem as inteligentes. São pessoas como você que impedem que mulheres como eu, sejam respeitadas. Isso é um absurdo!
Assustado, o ventríloquo pediu-lhe desculpas, tentando ainda explicar-lhe que tudo era uma brincadeira, que não levasse a sério, quando então Leocádia, em tom mais raivoso, o interrompeu:
- Um momento, meu senhor. Fique fora disto. Não estou falando com o senhor. A discussão é com o rapazinho sentado aí sobre o seu colo!
///