Pérolas do Cotidiano - Aconteceu em Londres.
O Dr. Watson (não se trata do famoso assistente de Sherlock Holmes) caminhava lépido e fagueiro por uma movimentada rua de Londres. Vamos identificá-la apenas superficialmente. A dica é a seguinte: daquele local podia-se ver o Big-Ben, monumento secular, orgulho do povo londrino.
Ainda não descrevemos o Dr. Watson, o que faremos agora: era um velhinho bem apessoado, parecendo já ter vivido uns 80 anos ou pouco mais; naquela tarde trajava um alinhado terno de tropical da terra, de cor escura, que contrastava indecentemente (no bom sentido) com sua longa barba branca que lhe cobria todo o pescoço. Na mão direita portava uma bengala ornada com fino castão de prata. Acho que o leitor já tem uma pequena idéia a respeito de nosso personagem, penso (logo, existo ! nada a ver com a estória, desculpem, por favor ). Continuemos.
Ainda não foi dito que eram 5 horas da tarde (e do chá, por aquelas plagas). Está cumprida nossa missão. O vetusto senhor dirigia-se a um guarda de trânsito, a quem desejava solicitar uma informação precisa a respeito de um determinado logradouro. O guarda parecia olhar para o firmamento, apitando, dado o volume do tráfego àquela hora, insistentemente. Olhava para cima porque passavam muitos ônibus de 2 andares, se não me equivoco.
O Dr. Watson estava quase chegando próximo à guarita do tal guarda (que não era da Rainha, embora o desejasse) quando, de repente, não mais do que de repente, baixou um tremendo fog (o que, sabemos, é hábito naquelas paragens). O nevoeiro tomou conta do lugar, não se deixando ver nada, além do existente a um palmo do nariz. O velhinho estancou, de chofre. Lembrou que portava uma bengala e resolveu fazer uso desse, agora, instrumento de prospecção. Deu uma pancada no chão, tentando situar-se. O arrimo de deficientes físicos e, em alguns casos, de velhinhos, como o desta estória, vibrou no ar, não tocando em nada sólido. O Dr. não se fez de rogado: girou 180 graus e bateu, de novo, a bengala. Nada. Agora voltou-se 90 graus à esquerda. Nada, ainda. l80 à direita. A bengala continuava nada encontrando de palpável que pudesse ajudar nosso herói. Ficou atônito. O que teria acontecido ? Não podia mover-se para qualquer lado. Parecia que flutuava no ar. Não teve outra solução senão ficar parado à espera da dissipação da neblina. Foi o que fez.
* * *
Três horas após, o fog se foi. O Dr. Watson olhou à volta e nada viu que pudesse justificar aquele fato insólito que acontecera. A rua ali estava, do mesmo jeito de sempre. O que havia de diferente era uma só coisa. A bengala estava quebrada. Só tinha o cabo.