Maldita Valéria! - mensagem de Barnabé Varejeira.
Bão dia, Cérjim, meu amigo, amigo do peito, amigo que muito bem eu quero, amigo do coração, do coração de ouro, de ouro de oito que late. Que Deus Nosso Siôr Jesu Cristo Menino, Fio do Zé i da Santa Maria, proteja ocê sempre, i sempre, i pa todo o sempre. Amém.
Transandônte, anteônte, i ônte, i ôje, Cérjim, eu ovi uma instória daquelas de arrepiá os cabelo de ovo de pata. Meu Deus do Céu! Tem gente neste mundão de Deus Nosso Siôr que só sabe fazê disgrama das bem desgraçada. Que os diabo as carregue pus quinto dos inferno. E que Deus Nosso Siôr me perdõe se cometi, i cometi, uma heresia imperdoáve. Mas não dá pa guentá tanta mardade das pessoa. Não dá. Não tenho paciência de Jó. Deus me livre! Deus deu, Cérjim, um inspírito pa cada fio-de-Deus, um só, unzinho só, um pa cada uma das pessoa de duas perna; todavia, entanto, há pessoas que têm dois inspírito: o que Deus deu, e o que o cão deu, e o cão deu o inspírito-de-porco. Deus me livre de tanta disgrama! Cérjim, eu ovi, já disse eu, i repito, ônte, i anteônte, i transandônte, i ôje, i osso às veiz, à quarqué hora do dia i da noite, uma daquelas notiça de doer no coração de todo ômi de bom coração.
Óia, Cérjim, ocê sabe tão bem quanto eu, o até mais, pruque ocê é um ômi estudado, que há um bão tempo nóis sofre pruque um sino-chinês comeu, lá pras banda dos ómi de óio fechado, parente próximo, um primo, i quase irmão, dos japa-nipônico, um morcego, i cru. Daí, a instória é de conhecimento de todo os ómi. O sino-chinês ficô ruim pa dedéu, i antes de í po beleléu, gurspiu, o mal-encaminhado, um caroço de catarro com o vírus, aquele bichinho que os fio-de-Deus, não o veno, vê, i o estrupício, o tal bichinho, vuô, i vuô, foi de lá pra cá, o bandido, i infectô uns punhado de sino-chinês, de japa-nipônico, de viéti-vietnã, de gringo-americano, de portuga-lusíada, de ítalo-romano, i ôtras raça de gente de otros praneta, até que, enfim, infectô um brasilêro, i, depois disso, arrasô cas vida de muinto de nosso povo. I que Deus Nosso Siôr Jesu Cristo Menino, Fio do Zé i da Santa Maria, sarve as arma de todos ele, i dêxe elas í pô céu. I que tenha misericórdia de todo os ômi.
Pois bem, Cérjim, nós sofreu à beça. Sofrêmo muito. Mas tâmo nos livrano do mardito mocorongovírus, que fez uma disgrama que só veno. Mas a vida segue. Temo de segui, sem insmorece. Temo que arregaçá as manga, i pôr mãos à obra. Fazê o quê?! Se é ansim, é ansim. Deus Nosso Siôr sabe o que faz.
Agora, veja bem, Cérjim. Ocê veja como as pessoa não qué que a gente respire nem um gole de ar puro, pa espairece, renová as energia, pa podê pegá no batente, i segui em frente pruque atrás vem gente, i já dão um jeito de fazê as pessoa ficá cas perna bamba de tanto medo. Ô gente coisa-ruim! Nem mal nos livrâmo do mocorongovírus, i já trosséro ôtro bichinho pa nos atazaná a cabeça, i nos deixá de cabelos em pé, i o coração apertado, de tanto susto, susto atrás de susto. Deus me livre. Primêro, um sino-chinês cóme carne de morcego, crua, i o mar se espáia pela terra de Nosso Siôr, fazeno muinto mar pa toda as pessoa; i agora, uma tar de Valéria cóme carne de macaco, má-passada, passa mar, e górspi um catarro tão tamanhudo, de assustá até abantesma, sofre um piripaque, i parte desta pa mió, i da massa catarruda que ela gurspiu brota um bichinho, que, tal qual o mocorongovírus, não o veno, todo mundo o vê, i espaia-se de um fio-de-Deus para ôtro, i pa ôtro, i pa ôtro, i pa ôtro, i põe toda as pessoa de cabelo em pé.
Óie ocê, Cérjim, i ossa bem: as muié são danada pa trazê disgrama no mundo. Primêro, a senhora Eva, de triste memória, come uma das maçã da maciêra, instragada, i agora a tar da Valéria come carne de macaco, má-passada. Mardita Eva! Mardita Valéria!