Quiném pó royal...
Vovozim, beirando os 91, segue cada vez mais despacito pelas quebradas da ainda mais velha Serrana. Com a mente lúcida, no entanto, responde à minha indagação, quase à porta da padaria do Zezim, onde pelas manhãs aparece munido de sua canequinha de plástico aurinegra no fundo, apoiado na bengalinha:
- Eu já fui assaltado 26 vezes, não, 27. Aliás, dá última, estava lá no meu bar, ali no Beco dos Canudos, esse menino que você vê lá sempre, o Adamir, que toma sua cerveja em paz, e que o Robson, meu falecido filho, brincalhão que era, apelidou de Trincão, só porque a primeira vez que ele lá chegou e pediu uma cerveja trincando de gelada...pois é, tava o Trincão lá comigo, quando chegaram, do nada dois rapazinhos de arma na mão, pra fazer a rapa...De mim levaram vinte e sete reais e dele, queriam ainda mais...
Mas quando a polícia chegou eles já haviam se retirado, prometendo que iam voltar, o Trincão foi questionado pelos policiais sobre os pormenores do assalto, e ele respondeu, com certo recato, mas com toda convicção:
- Com a arma encostada na minha cabeça, eu que sou afro de pele e osso, só sei que fiquei branco quiném pó royal, e só não obrei porque não tinha nada, mas nada mesmo no estômago ...agora, o que a bexiga trabalhou...