Admiráveis

- Feliz dia da mulher!!

- Aff, Helena! Até você? Tem nada que comemorar nesta data.

- Ôxi, dona Zuleica! Que amargura é essa? Tá parecendo aquela sua amiga que não gosta do Natal porque tem gente passando fome.

- Ai, Helena! Desculpa. É que já recebi um monte de mensagem cuti-cuti aqui no zap, de gente que não esconde machismo, uma hipocrisia danada!

- Eu sei como é. Dá raiva mesmo. Mas eu gosto. Roberto tava todo meloso.

- Uma data tão macabra, com mulheres sendo queimadas por lutarem por seus direitos trabalhistas. Mas, pelo menos, serviu para colocar a luta feminista em evidência.

- Acredita que tem gente que acha que não precisa mais dessa luta.

- Acredito. Até mulheres. E não adianta dizer que os direitos que elas têm foram conquistados na marra, por mulheres que morreram e até mataram para isso. Em geral, são mulheres que conquistaram espaços em que as diferenças de gênero impactam pouco suas vidas.

- É nada, dona Zuleica! Lá na igreja, tem mulher que apanha do marido e acha que feminismo é coisa do diabo.

- As igrejas contribuem muito para essa submissão da mulher. Existe a falsa correlação entre famílias desfeitas e mulheres independentes, conscientes dos seus direitos. Além disso, a luta por minorias sempre foi uma bandeira socialista e, por isso, combatida por postulantes da extrema direita.

- Igual àquela besta do Bananinha, dizendo que o metrô lá de São Paulo desabou porque prioriza a contratação de mulheres?

- Exato. Eu não acredito que ele pense isso. Tem uma filha, deve querer o melhor para ela. Mas esse discurso alimenta a base mais radical do pai dele, que, se pudesse, retirava até nosso direito de voto, que foi a primeira das bandeiras feministas.

- O pai dele, com certeza. Se depender da mulherada, não ganha nem eleição de condomínio.

- Ele é misógino! Não só não acredita na igualdade de gêneros, mas se sente ameaçado por ela. Ele e grande parte dos seus seguidores.

- Tinha que ter mais mulher na política.

- Seria lindo. Mas é difícil. Há pouco incentivo, tem partido que, para usar a verba das cotas de gênero, apresenta candidatas laranja...

- E, quando uma mulher chega lá, os homens derrubam, igual a Dilma.

- A questão do impeachment da Dilma é um pouco mais complexa que mera misoginia, Helena. Envolve luta por poder, principalmente econômico, a falta de jogo de cintura dela...

- Pra entrar nos esquemas.

- Né? Acabou se isolando. Deu no que deu. Você viu a pesquisa em que ela está entre as cinco mulheres mais admiradas do país?

- Foi? Merecido! E a Damares? Tá nessa lista?

- A Damares!? Não! Por que seria admirada?

- É tão machista! Me admira aquilo ali ser mulher, que dirá, Ministra da Mulher.

 


Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília:

https://alo.com.br/admiraveis/