Pérolas do Cotidiano - A vizinha escandalizada.

Dona Mafalda mora no apto. 402 de um prédio de dois por andar. Ela sempre agradece a Deus o fato de ter como vizinhos um casal bastante discreto. Os moradores do 401 não têm filhos, não promovem rodadas de buraco com os amigos, não ouvem música até altas horas, não fazem, enfim, qualquer barulho que possa perturbar o sossego da vizinha e de seu marido. Pra simplificar a estória, podemos dizer que os habitantes do quarto andar desse prédio vivem no chamado “mar de rosas”.

Entretanto, há um fato que deixa D. Mafalda escandalizada. É o de os moradores do 401 serem chegados a uma birita. O que denuncia essa prática pouco saudável é a lixeira, de uso comum dos dois imóveis. Obedecendo a instruções do condomínio, os vasilhames vazios são depositados no chão desse local, de onde são retirados pela faxineira (cá entre nós, que ninguém nos ouça, a serviçal sempre tem a esperança de encontrar uma garrafa que ainda contenha um resto de algum líquido precioso mas, até agora, só se deu mal).

Invariavelmente, sempre que a moradora do 402 vai-se descartar do lixo, ela encontra a lixeira entulhada, até quase o teto, de garrafas dos mais variados formatos, de garrafinhas de diversas bebidas (miniaturas, dessas que estão em voga), além de garrafões de diversos vinhos populares, desses que não custam mais de R$ 6,00. Dona Mafalda ficaria ainda mais estupefacta se pudesse presenciar a quantidade de latinhas de cerveja que são jogadas diária e diretamente pela lixeira abaixo pelos seus vizinhos de andar.

Como se pode depreender do narrado até aqui, esse casal do 401 bebe mais do que peru em véspera de Natal, vive mais encharcado do que mendigo em meio a um temporal e mais emborrachado do que pneu de jamanta tamanho família.

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Um belo dia, Dona Mafalda e o respectivo maridão, de braços dados, passavam em frente ao bar que existe na esquina mais próxima do prédio onde residem quando vislumbraram, em uma das mesas, o casal-beberrão enchendo as fuças. A mesa dos indigitados estava atravancada de garrafas de cerveja. No meio de toda aquela parafernália, podia ser visto - fato até de certa forma surpreendente -, um vasilhame contendo restos de refrigerante. O marido de Dona Mafalda, olhando aquela cena, fez o seguinte comentário:

- Como bebe esse pessoal, não é Faldinha ??? Ainda bem que eles não são desses que consomem drogas !!!

- Quem te disse isso, Adherbal ? Como sabes desse pormenor ?

- Eu não sei de nada. Estou apenas constatando o fato in loco. Repara só na garrafa de refrigerante. Não é de Coca, mas, sim, de Pepsi. Presta só sua atenção para quem está na mesa ao lado; é o Zico ! O Craque não está com eles. E tem mais: A mulher não está nem aí para heroína, ela é a própria. Só sendo uma dessas para aturar esse tremendo pé-de-cana.

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