O bêbado que viu o próprio avesso (e não curtiu)
Dirvandi havia perdido todos os amigos, só havendo ficado um: mas sendo que este apenas o seguia no Facebook e era somente um seguidor sem contato direto, pessoal, com ele — ou seja: era um desses que curtem postagens e deixam um “joinha” ou risos através dos emojis (aquelas carinhas arredondadas que exprimem sentimentos).
Todos os amigos de contato direto com Dirvandi desistiram do velho hábito de beberem juntos com ele nos finais de semana, porque ele bebia demais e fazia todos passarem vergonha.
Dirvandi (já bêbado de novo) pensou então num truque: ele abriu um novo perfil dele mesmo nesse aplicativo (mas era falso, com outro nome), apenas para tentar garantir que o último contato que lhe restava acreditasse que havia aparecido outro admirador, mas sendo apenas ele falando consigo mesmo e alimentando a conversa com aquele seguidor. Então, tudo ficaria como se fossem três perfis diferentes conversando.
Dirvandi, estando bêbado ou não, conseguia “mandar bem”... na configuração de aplicativos de celular — porque se orientava pela luz hipnótica daquele aparelhinho.
Foram se passando alguns finais de semana, de curtidas entre os três perfis. Mas, estranhamente, o perfil do simpatizante que havia restado começou a postar mensagens insistindo que Dirvandi parasse de beber.
Dirvandi dava risadas quando lia essas mensagens, pois só acessava a rede social nos finais de semana e quando já estava bêbado. Não tinha jeito. Até para amizades à distância, só puxava conversa quando já estava embriagado.
Dirvandi não gostou de tanto “conselho bom”, que não parava de chegar no seu perfil, pois com o passar do tempo as mensagens ficavam mais chatas por causa da insistência.
O tal seguidor aconselhador não parava, nem mesmo quando Dirvandi usou seu perfil falso para dizer: “ deixa o rapaz beber o quanto ele quiser”.
Até que um dia Dirvandi resolveu desistir dos dois perfis, tanto o original quanto o falso. O fato é que perdeu a paciência e encerrou as duas contas no Facebook.
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Dirvandi, durante a semana no expediente de trabalho, que era quando estava sempre sóbrio e sem ter tocado em bebida (pois evitava perder o emprego por um motivo assim fútil) caiu em prantos na segunda-feira seguinte.
Os amigos escutaram quando Dirvandi explicou que tinha conservado um falso perfil no Facebook, já desde muitos anos, que tinha sido justamente para tentar aconselhar ao Dirvandi em que ele se transformava nos finais de semana.
O fato é que o Dirvandi bêbado dos finais de semana não reconhecia nem mesmo as mensagens que ele próprio enviava para si quando estava sóbrio no trabalho fingindo ser outra pessoa para aconselhar a si mesmo — pois o Dirvandi do trabalho (que era ele mesmo sóbrio) jamais teria abandonado a si próprio sozinho no Facebook. Então, na verdade, sempre foram três “Dirvandis” conversando — um real e dois inventados.
O Dirvandi sóbrio não conseguiu alcançar com conselhos o seu outro lado da personalidade, que atacava toda sexta-feira no final do expediente exatamente quando ele passava pela porta da saída da empresa onde trabalhava. Era uma coisa tão automática, que o Dirvandi sóbrio não conseguia controlar — a não ser que pedisse para ficar no escritório durante todo o final de semana, mas, se fosse falar aquilo para os superiores eles o demitiriam dizendo que ele não merecia confiança para trabalhar numa outra função que sobrava: a de “vigia”.
Pelo jeito, o Dirvandi bêbado tinha acabado de enterrar a amizade com aquele amigo que ele todo dia via no espelho — mas de quem não se lembrava nos finais de semana por causa da embriaguez.
Infelizmente, Dirvandi ainda bebe até hoje.
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Da série: "Facebook é para essas coisas"