Um intruso no meu apartamento - The End

E abrem-se as cortinas do teatro da vida real.

Cena 1: Mulher entra na cozinha e vê algo correndo do fogão para a máquina de lavar roupas. Grita pelo marido. Ambos iniciam a primeira busca (a mulher coordenando, de longe). Em vão. Mulher prepara queijo com soda cáustica em um prato de isopor e coloca no chão. Lacra as portas dos cômodos do apartamento. O casal sai para trabalhar.

Cena 2: Diante do prato de queijo com soda cáustica intacto, marido faz a segunda busca no apartamento. Em vão. A mulher prepara vários pratos de queijo, presunto, pão integral e cimento. Colocam o especial da noite no chão. O casal vai dormir.

Cena 3: Pela manhã percebem restos de comida no chão. Mulher faz faxina na casa. Lacra as portas dos cômodos. Casal sai para trabalhar.

Cena 4: Na ausência do corpo ou mau cheiro, a mulher compra duas ratoeiras. Deixa-as armadas.

Cena 5: O bicho come o queijo e arranha uma das ratoeiras e desaparece. Portas continuam sendo lacradas.

Cena 6: O cunhado da mulher compra veneno e mistura-o aos alimentos no chão. O animal mexe (ou come!?), espalha tudo. Deixa vestígios.

Cena 7: (Fim de semana) Marido e mulher atentos para os filhos não encostarem no veneno, ainda, à disposição do indivíduo. Não há mais sinais evidente de vida intrusa. Porém, não há mau cheiro. Guerra fria. Mulher resolve cortar quatro pequenos pedaços de melancia e acrescentar ao preparado com veneno. Portas sempre lacradas.

Cena 8: Pedaços de melancia espalhados pela cozinha. Marido e mulher fazem outra busca pelo apartamento. Cunhados fazem mais buscas pelo apartamento. Em vão. As pessoas começam a duvidar da sanidade mental da mulher.

Cena 9: Marido e mulher fazem outra busca e limpam dejetos encontrados no chão. De cima de uma cadeira, a mulher coloca a máquina de lavar roupas em funcionamento. Em vão. Mulher no intervalo do almoço compra papel cola-rato.

Cena 10: Mulher monta ratoeiras e o papel cola rato.

Cena 11: Pela manhã. Papel cola-rato, ratoeira de gaiola intactos. Ratoeira quebra-pescoço sem a isca. Indignada, mulher desmonta as ratoeiras, coloca pão integral no papel cola-rato e o insere embaixo da máquina de lavar roupas. Marido e mulher saem para trabalhar.

Cena 12: Manhã do outro dia. Mulher vai à cozinha e percebe movimentos no papel cola-rato. Mulher sobe no sofá e grita pelo marido. Marido retira o papel cola-rato debaixo da máquina de lavar roupas.

Fecham-se as cortinas do teatro da vida real.

Nota de falecimento: Hoje, dia xx do mês tal do ano zz, haverá uma festa na residência da ilustre mulher, que ora vos escreve, para comemorar o desaparecimento eterno de um infame e nojento rato que, por dias a fio, tirou o sossego e tornou o lar da mesma um lugar quase desprezível e inabitável. A comunidade solidária ao imenso sentimento de alívio dessa senhora, encontra-se convidada para o evento.

Experiências e agradecimentos:

1) Há vários níveis de ratos - Aqueles que comem de tudo ofertado (mais fáceis de capturar) e os que gostam de alimentos integrais, frutas e legumes frescos. Então, antes da caçada, conheça o seu.

3) O ratos do Século XXI não se deixam ludibriar facilmente por ratoeiras e venenos.

4) Eles também se encontram na era da informática. Nas minhas pesquisas descobri redes sociais das famílias Muridae onde eles trocam informações alimentares e formas de fugir das buscas humanas, o que explica o fato de estarem mais espertos e estratégicos. Pense bem antes de jogar equipamentos eletrônicos no lixo. A natureza e o futuro da humanidade agradecem.

5) Vivas, muitos vivas ao inventor do papel, da cola e, em especial, do papel cola-rato (comemoremos, porém, com discrição - para que os ratos não descubram e divulguem entre si). Obrigada à dona amiga pela dica do papel cola-rato. Obrigada à minha mãe pelo cimento doado. Obrigada aos meus cunhados pelo veneno e pelas buscas. Obrigada ao meu marido pelas investigações frequentes e nos horários mais inusitados. Obrigada a todos os que acompanharam minha jornada.

Reflexões:

1) Por mínimas que sejam as desconfianças, sempre acredite nos seus instintos.

2) Supostas pequenas questões quando não resolvidas pontualmente, podem se transformar em imensos e sufocantes transtornos;

3) Não menospreze os medos alheios, não julgue o outro por suas medidas. Cada pessoa é uma imensidão dentro de si, onde não cabem minhas experiências. Mais empatia com o sentir do outro;

4) Acredite, incentive, auxilie e ajude o outro. Meus esposo, familiares e amigos foram cruciais no desenrolar dessa situação. Com o apoio deles, minha casa voltou a ser meu lar.

Luciana Luz
Enviado por Luciana Luz em 24/11/2021
Código do texto: T7392978
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