O CONCRETISTA
É isto poesia Concreta?
Não, mas é sempre discreta,
Sem nunca ser abjecta
Porém, todavia, directa.
Numa ampla linha recta
Toda a letra sai preta
Pela ponta da caneta,
Veja-se nesta faceta.
Ele há cola na gaveta
Para se pôr na maleta,
Que belo está o planeta
Onde voa a borboleta.
Em asa delta o poeta
Sai pela porta aberta,
Se mostrar a silhueta
Dá jeito numa opereta…
É concreta, é concreta,
Dizem ser poesia-treta
Pois não passa de vedeta…
E é tudo menos correcta.
Olha, e bem, a pirueta
Que o poeta faz à letra:
Agarre-se já à corneta
E não caia na sarjeta…
Não é poesia, é selecta
À laia duma vendeta,
Com ela ninguém se meta
Qu´ o vulgo logo a enjeita…
Palavra, quando inquieta
Tirada de vil colheita,
Concretismo? Desta feita
A própria Arte infecta!
O “concretista” vai à meta
Pensando qu´ é uma seta
Mas nunca se livra desta
Qu´ a Arte não dá cheta!
Frassino Machado
In ODIRONIAS