"CADÊ O MEU PESSOAL?"
"Agora, senhoras e senhores" - disse o mágico no circo - "deste lenço, inteiramente vazio, como estão vendo, vou tirar um aquário com um peixe dourado - Pronto !"
Houve murmúrios de admiração em todo circo, e todos exclamaram:
"É maravilhoso ! Como será que conseguiu fazer isto?"
O senhor Sabido, na fila da frente, colocou-se de pé e gritou:
"Estava dentro da manga."
Todos sacudiram a cabeça e exclamaram:
"Sem dúvida ! Sem dúvida ! Estava dentro da manga".
O Sabichao olhou para o seu público e exclamou pomposo:
"Este é o meu pessoal !"
"Meu truque seguinte - continuou o prestidigitador, será a dos famosos arcos coloridos. Como veêm, os arcos estão separados. A um só golpe, eles se unem, (plast). Pronto !"
Houve um ah! de estupefação no público, até que o Sabidão se levantou e gritou:
"Ele tinha outros arcos ocultos na manga".
A face do mágico se carregou de reprovação, mas ele continuou o espetáculo e disse ao público:
"Agora vou fazer um chapéu qualquer, do público, ficar cheio de ovos" E apontando para o Sabichão: "Será que o cavalheiro pode me emprestar o chapéu... ah! muito obrigado. Presto...
Apareceram uma dúzia de ovos de galinha no chapéu do Sabichão, que, ao contrário do público, não se deu por rogado e gritou para todos:
"Ele tem uma galinha na manga".
E o público balançou a cabeça com desaprovação.
Assim, a se acreditar no Sabichão, o mágico devia ter escondido na manga um aquário, um peixinho, dois arcos coloridos e uma galinha.
Mas era assim que o Sabidao gostava: com seu pessoal lhe dando razão. Mesmo que não o tivesse.
Aparentemente, o seu pessoal, (ou gado obediente como diziam outros), acreditava.
O mágico percebeu no semblante do seu público.
Mesmo assim, fez derradeiro esforço:
"Senhoras e senhores, como número final vou apresentar o inovador e fantástico truque japonês, dos tempos dos samurais" - e apontando para o Sabichão: "o senhor poderia me emprestar o seu relógio, o seu óculos, o seu chapéu agora cheio de ovos, a sua linda gravata e os seus sapatos?"
O senhor Sabichão entregou-lhe tudo.
E o mágico, que recebera da auxiliar uma pequena bigorna e um martelo, esmigalhou o relógio e os óculos, junto com os ovos, a gravata e os sapatos.
O Sabichão levantou e dirigiu-se ao auditório:
"Ele já antes os escondeu na manga".
O mágico recebeu uma pequena bacia e álcool e nela colocou e regou os sapatos e a gravata, acendeu o fogo e o público maravilhado viu os objetos queimarem.
O Sabichão, agora não muito cheio de certezas, exclamou, mas agora com voz mais vacilante:
"Ele os colocou na manga".
Em seguida o mágico colocou o chapéu com ovos no chão e dançou pisoteando até que virasse uma massa disforme.
O Sabichão, agora, não conseguia esconder seu espanto. Via claramente as suas coisas quebradas, queimadas e pisoteadas.
Houve um silêncio geral.
"Senhoras e senhores" - dirigiu-se o mágico ao público - "podem observar que eu, com a permissão deste cavalheiro, esmaguei o seu óculos e relógio, queimei a sua gravata e dancei sobre o seu chapéu cheio de ovos. Se ele permitir, posso ainda pintá-lo de vermelho, pois ficarei encantado em continuar a entreter-los mais... mas, prefiro encerrar aqui os meus trabalhos".
O pano caiu, a pequena orquestra atacou furiosa um "gran finale", os artistas reuniram-se no picadeiro para os agradecimentos, as luzes multi coloridas cintilaram, espocaram canhoes de confete e serpentina.
As luzes se acenderam e o público se dispersou.
Na cadeira numerada ficou apenas o Sabichão, agora convencido de que alguns truques não são executados com o auxilio da manga do artista.
Descalço, sem gravata, sem óculos, chapéu e relógio buscou apoio no "seu pessoal ".
Mas todos já tinham lhe virado as costas e ido embora.
Quando se deu conta, o mitológico Sabichao, estava só e despido a gritar no circo vazio:
"Cadê o meu pessoal ?"
No dia seguinte ele se reuniu a outro Sabichão igual a ele e redigiram um pedido de "arrego", digo, desculpa ao mágico... mas isso já é outra história.
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Obrigado pela leitura.
07.set.2021
Sajob