AVULSO 09
O GATO GLUTÃO
“No Dia internacional do Gato Preto”
Eu ando muito deprimido
Desde que me tornei poeta,
De tal já estou arrependido
Pois minha Musa não é preta.
Estou farto de me esforçar,
O meu estado não tem graça,
Quando preciso de m´ inspirar
Vem-me à cabeça uma loiraça.
Todos dizem que lembro a noite
Mas eu gosto dos claros dias
Quem não concordar leva açoite
Por me trazer tais arrelias.
Os outros poetas fazem poemas
Acerca de mim e doutros gatos
Mas só falam dos problemas
Qu´ os gatos dão. Eles são uns chatos.
Eu sou preto, sim, e bichano,
Mas não sou como eles, maluco
Se eu gosto da noite, por engano
É porque sou romântico e culto.
Dizem que hoje é o meu Dia,
Não concordo co´ a designação,
Há outros bichos que são magia
Quanto a mim, não m´ acho fantasia.
Dizem que me meto co´ as bruxas
E, como elas, provoco o azar,
O que eles precisam é de chuchas
Pra cabeça deles aliviar…
Dizem que sou animal maligno
E, do azar, personificação;
Não, sou carinhoso e benigno
E tenho ódio à superstição.
Dizem que gosto da escuridão,
Por causa desta minha cor;
Gosto de luz, e sou glutão
E, a comer: o que há de melhor.
Dizem que me rodeio de corujas,
Que devoro morcegos ao jantar,
Eles são vampiros de mãos sujas
E nunca se inibem em matar.
Sou gato preto, isso é verdade,
Uma cor como outra qualquer,
Sou o carinho e a lealdade
E dou sorte a homem ou mulher.
Se querem saber mais de mim
E mudar de vez a vossa ideia,
Venham-me ver no varandim
A fazer versos à Lua Cheia.
Não sigam o que diz o Edgar,
Nos Contos escritos avulso,
Sou corajoso no meu versejar
Fazendo poemas pelo meu pulso.
Ao meu rival chamo-lhe Tico,
Gosto pouco da concorrência,
Mais do que ele vaidoso fico
E em Poesia sou competência.
Saibam todos que o Glutão,
O «Gato Preto» mais charmoso,
Não teme a mais ninguém, oh não,
Pois que a história o fez famoso!
Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM / Odironias