OS CHIQUETOSOS DA PANDEMIA

Começo a dizer que somos todos seres humanos e, como tal, sempre protagonizamos o humor surreal pela vida, ainda que a matéria principal seja triste.

E assim nos é na atual pandemia do novo Coronavírus. Basta observar.

Nem preciso dizer que ninguém aguenta mais! Mas o humor nos salva!

Esse vírus nos desestabilizou duma tal maneira que eu acredito que quem quer mesmo fazer humor no terror...é ele...conosco.

Olhe no espelho pela manhã e você saberá do que falo.

Principalmente quem estiver na rotina do tal "home-office".

Mas você é um vencedor e superará mais esse desafio para se sentir vivo mesmo se enxergando morto!

Vejam: existe uma tendência humana que até nos salva, a de se querer ser diferente mesmo em meio a gritaria e o notório "todos iguais".

Que somos todos iguais ninguém mais duvida! Alguém ainda discorda?

O vírus mostrou bem isso...mas sempre tem um mais, digamos, "igual mas bem mais diferente" que se reflete no espelho narcísico.

Não basta não ter a virose...tem que ser duma forma chiquetosa nem que for no "úrtimo" respirar!

A vaidade chiquetosa está em tudo! Isso não muda! É do DNA do Homo Sapiens. Preste atenção:

A vaidade humorística está na briga dos discursos da CPI, nas matérias do jornalismo, nas opiniões de amigos e familiares, nas aulas dos super doutores das telas, nas mídias, na Ciência, na ideologia perigosa e pomposa de não se usar as máscaras, está até no modo "fashion" de usá-las (essas, então, são identificadores precisos da personalidade de acordo com o "paisagismo" impresso nos tapa bocas...tipo...com diversas faunas e floras".

Já nem basta mais expor a grife das máscaras letradas na sua capacidade protetiva, que bombam nos "cookies" dos "Apps".

Isso já caiu da moda, minha gente!

Dia desses, conto que vi um senhor com uma máscara que mais parecia um "snorkel", aquele "kit mergulho" completo. Que que era aquilo!? Levei um susto! Imaginem o novo vírus ao ver aquela coisa pomposa!

Se não fosse num supermercado eu juraria que ele estaria próximo de dar um mergulho cinematográfico naquela praia fechada cheia de vigilantes, contanto que tivesse espectadores o filmando para as redes sociais.

Todo mundo olhava para ele...inclusive eu.

"Onde será que ele comprou esse treco tão chique"- pensei comigo enquanto ele desfilava todo orgulhoso na minha frente.

Eu me senti irrisoriamente protegida contra o novo Coronavírus com aquela minha N95 tão básica...tão inexpressiva.

Decerto que o Corona nem tentaria enfrentar aquele senhor tão aramado...disposto a guerrear "vipmente" pela respiração dos grandes...

E agora, então, que chegou a hora das vacinas e de se auto-fotografar com elas para o chiquetoso concurso de auto-estima , o de "selfies" das redes?

-Meus deuses do céu! Quem aguenta?

As vacinas viraram GRIFES de luxo. Como as bolsas da PRADA!

Com a diferença que as bolsas e todas as demais grifes estão nas gavetas esperando o vírus desistir de nós!

Daí a pergunta que não cala:

"Qual vacina você tomou?- sempre me perguntam.

Eu,nada chiquetosamente, abaixo a voz e cochicho que tomei aquela mesma, tipo pioneira...que já está ótimo, graças a Deus!- mas sempre falo bem baixinho para ninguém me escutar! Mas de nada adianta!

'Ah não! eu não tomo dessa nem morta, imagina, eu quero a inglesa!"-como se essa lhe conferisse um título de nobreza via vetor viral!

E o outro: "eu só tomo a americana" como se imediatamente ela fosse agraciada com plena imunidade de dupla cidadania via RNA.

Semana passada vi uma cena chique, bem curiosa: Como se num esforço super V.I.P de se estacionar um navio na calçada, ela parou sua chiquetosa S.U.V, abriu o vidro e gritou: "ei, vocês ainda têm a Pfizer ou só a ASTRA SÊNICA"

E SÉNECA se remexeu...diante de tanto chiquê filosófico!

E alguém que a ouviu ainda a repicou: "ah não, nem que for só para o ano que vem...mas eu vou esperar pela da JANSSEN, eu mereço o melhor!"

E foi assim, diante do humor no trágico, que SÉNECA pensou chiquetosamente, respirou fundo e escreveu aquele seu pensamento:

" enquanto adiamos as coisas...a vida passa".

E nesse caso...a vida morre. Literalmente.

E, convenhamos, isso não é nada chique.