Orgulho de Homem
Eu estava à toa na vida; o meu ex-amor me chamou para conversar.
Combinei ir, visto não ter conhecido ninguém interessante desde a separação.
Estava difícil descolar mulher, não que o material faltasse, o problema era algum lance astral.
Com Maria Elisa ao lado, recebia cantadas, piscadelas, declarações.
Parece que mulher gosta é de homem acompanhado, seguro, amarrado.
Creio que elas acreditam que os melhores estão com as outras.
Resolvi aceitar o convite da “ex”.
Não sabia o que ela me diria.
Será que era para pedir de volta algum presente que trocamos; algo que tomei e não devolvi?
Fiz as contas.
Nosso acerto foi integral. Saldo positivo. Ninguém ficou a dever nada.
Seria proposta de retorno, de um recomeço?
O pior é que ela marcou o encontro para sexta à noite, no mesmo restaurante em que começamos a namorar.
Por que não foi na casa dela?
Estou meio duro, vou descolar grana emprestada para pagar o jantar, quem sabe o motel depois.
Vou fingir que estou com alguém; isso, dificultar o jogo!
Melhor não. Ela me conhece tão bem que sabe quando estou mentindo.
O que digo quando perguntar se estou sozinho?
Dando um tempo.
Assim, avaliando minha posição, refletindo sobre o que quero ou não em uma relação; o que é importante, coisas que mulheres gostam e que não levam a nada...
Homens querem apenas estar ao lado de uma mulher que os faça sentirem-se bem, importantes, bonitos e interessantes.
Gostam de olhar para outras, discretamente, embora alguns não disfarcem – e esses são perigosos; praticamente querem saltar fora.
A maioria de nós se apaixona loucamente por uma mulher. Fica cego e não quer saber de nenhuma outra.
A relação deteriora quando vira rotina e cai no trivial leite com sucrilhos.
Voltar com Maria Elisa.
O que os amigo vão pensar?
Fraquejou, mano!
Não conseguiu descolar gata melhor, não?
Anda furando, hein?
Que isso? Voltar com a ex? Tanta mulher no pedaço e vai provar do que já conhece?
Falta de criatividade!
Serei motivo de chacota. Decidi. Com a Maria Elisa não volto. E agora? O encontro já está marcado. Acho que vou telefonar cancelando. Digo que tenho outra gata, que falei do nosso encontro, que ela ficou enciumada. Certo! Assim me livro dela.
– Alô?
– Maria Elisa?
– Sou eu, Tadeu. – a voz ficou fria, como se ela já adivinhasse o que eu estava pensando.
– É sobre nosso encontro de hoje...
– O que tem, Tadeu?
– Acho que não vai dar...
– ...
– Sabe como é, eu estou em um lance...
– Hum...
– Tem uma mina no pedaço...
– Sei...
– Sobre o que você queria falar? Será que dá pra adiantar o assunto?
– Você não tem jeito, Tadeu. Não tem jeito.
– Desculpe, eu só queria...
– Queria saber o que eu quero, não é, Tadeu?
– Bem...
– Está com medo de fraquejar, de cair de novo por mim, não é?
– Não sei...
– Pois saiba, Tadeu, que eu ainda sou apaixonada por você. Apaixonadíssima. Mas acabou, Tadeu. Acabou. Não quero mais saber! Tão rápido e você já descolou outra mina? Fique com ela, Tadeu. Seja feliz. A gente se vê por aí!
Fiquei com cara de tacho ouvindo o som do telefone por um tempo. Melhor esquecer Maria Elisa e partir para outra. “Começar de novo, tudo novamente” – como dizia aquela música. Era uma paixão, mas não importa, vem outra. Mulher é como trem, vai um, vem outro.
Vou até a janela. Sinto a brisa fresca. E se eu levasse flores e ajoelhasse diante dela?
Não. E o orgulho, os amigos, a cara dela zombando de sua figura patética? Seja homem, homem!
Vesti minha melhor roupa e saí para caçar com os amigos carregando o peso daquela angustiante e voluntária solidão...