Um e dois...?
Para Marcos era só mais uma viagem. Advogado jovem e bem-sucedido, o avião era o seu meio mais frequente de deslocamentos para atender a já vasta e sempre seleta clientela.
Contudo para o companheiro de assento da vez tudo soava, na melhor das hipóteses, uma incógnita: senhor de certa idade, cabisbaixo, tenso e sem ao menos uma resposta, ou um aceno de cabeça ao seu cumprimento de praxe.
Marcos, expansivo por natureza, preferiu conter-se. Mas pode bem sentir
que o companheiro era um novato em termos de viagens aéreas. Assim, com a aeronave entrando em velocidade entrando em velocidade cruzeiro, Marcos, sem muito mais que aprender em matéria de revistas de bordo, cerrou os olhos para um cochilo...e no exato momento em que ia se relaxando e perdendo a consciência, sentiu um leve toque em seu ombro direito. Meio assustado, ouviu uma indagação ansiosa do até então silente companheiro de viagem:
- Moço, será que aqui tem privada?
Ao que Marcos respondeu positivamente:
- Sim senhor, no fundo do corredor...!
- Ao que veio novo complemento indagativo:
- Um e dois...?
- Sim, até três...