DETURPANDO CANTIGAS DE RODA
Como me soam estranhas
As velhas cantigas de roda
Que ensinam as crianças
E nunca saem de moda
“Atirei o pau no gato,
mas o gato não morreu”
Ato de barbaridade,
Eu não ia gostar nada
Se esse gato fosse meu.
“Dona Chica admirou-se
do berro que o gato deu”
Eta! velha malvada
Merece é uma porrada
Pois ficou admirada
E nem sequer o defendeu
“Nessa rua tem um bosque
Que se chama solidão
Dentro dele mora um anjo
Que roubou meu coração”
A cabeça da criança
Que nada sabe da vida
Fica até meio perdida,
Não entende isso não
Vê um anjo perigoso,
Sem vergonha, enganoso
Que não passa de ladrão.
“O cravo brigou com a rosa
debaixo de uma sacada”
Essa é pura violência
Embora em sua essência
Venha a ser romanceada
Depois do “cravo ferido”
“E a rosa despetalada”
Parece que o pau quebrou feio
Houve tanta cacetada
Que a criança nesse meio
Fica desorientada.
Se você brincou de roda
Certamente vai lembrar,
Que essa velha brincadeira
Na verdade é uma besteira,
Mas gostosa de brincar
E eu lhe peço desculpa
Se por pura sacanagem
Vim aqui pra deturpar.