LOBOMAUSONARO
LOBOMAUSONARO
Chapeuzinho Verdade, uma menina simples e prestativa, estava livre, alegre e sorridente, era primavera, e a floresta Brasileira estava repleta das flores da democracia e da liberdade. Ela ia fazer sua visita semanal. Tudo parecia tranquilo, a brisa soprava suave. Mas, as surpresas existem, numa trincheira entre pedras, no caminho da pobre menina, escondido em seu buraco quente, Lobomausonaro, um foragido da matilha do exército, recebe uma informação de seu apurado faro animal:
- "Carne fresca no pedaço!. Alguma atividade suspeita identificada, há uma ameaça em potencial na floresta". Preocupado, pois achava que ele era o dono daquele lugar, foi em busca de sinais, e de cara viu que o cheiro lhe era peculiar. Passou no esconderijo do amigo Lobomoro e pediu para ele ficar de sobreaviso, pois havia elemento estranho rondando a propriedade. Lobomoro reuniu a matilha. Lobomausonaro, malandro e experiente na caçada, com bagagem de capitão da tropa da floresta, em pouco tempo encontrou Chapeuzinho Verdade. Sem nenhuma dificuldade, ela foi apreendida para averiguação. Aquilo era um prato muito saboroso, há anos ele buscava aquela iguaria. Resolveu interrogar a garota.
- "Pentelha, onde pensa que vai com este seu chapeuzinho vermelho? Você sabe que este lugar tem dono"?
E arrematou: "Que fique bem claro lindeza, só estou perguntando isso, pois é meu dever dar proteção a você. Afinal, vagar sozinha pela floresta é arriscado. "Talkey?".
Trêmula, assustada e desconfiada, Chapeuzinho Verdade respondeu:
- "Vou visitar a minha vovó. Ela mora um pouco longe, disseram que tem um lobo que vaga por ai, ele é muito mau".
O Lobomausonaro, como fazia na matilha do exército, vai fazer a tal averiguação de praxe. O famoso "baculejo". Revista!
- "O que a senhorita leva? Percebo seu esforço, a cesta parece pesada".
Querendo passar que era bonzinho, logo explicou:
- "É claro que eu estou perguntando isso para te alertar que podem ter colocado alguma coisa proibida na sua cesta sem você ter percebido, quem sabe armas, talkey"?
Chapeuzinho Verdade, recebiada e confusa, abriu a cesta e mostrou o que tinha lá dentro, era apenas um sanduíche de carne seca, um caldo de cana, uns torresmos e um charuto cubano. Já com sua estratégia pronta, ele diz a sua futura presa:
- "Muito bem, bela menina, vou deixar você ir, mas tome cuidado com os médicos paulistas, são fugitivos de um tal "Bu Tan Tã", eles estão distribuindo uma tal Vachina, dizendo que é remédio para uma tal gripezinha, um resfriado que dizem estar matando. Não aceite! Qualquer coisa, grite "Cloroquiiiiiina", que eu vou te socorrer, "talkey?".
Sem entender nada, atônita e confusa, ela seguiu na direção da casa da vovó. Cantava alegre:
- "Pela estrada afora eu vou bem sozinha…".
Caminhava ela feliz, sem saber que o Lobomausonaro, de forma sutil, a seguia. Lobomausonaro, com seu esquema já elaborado, pensou:
- "Esta guri acha que sou bobo, quer me enganar, arranjou uma vovozinha, colocou na conversa, e fingiu ser uma visita de cortesia. Aquele charuto... Pensa que me engana. Tá no chapéu dela que tem algo por tás disto, essa deve ser do acampamento do MST, e na verdade, vai visitar o companheiro Lula, isso eu não vou permitir, Lobomoro e sua matilha vão me ajudar".
Lobomausonaro, já velho e brochado, vendo a condição de atleta da menina e a disposição dela, correu o mais que pôde, colocou as tripas para fora para chegar à casa da tal "vovozinha" primeiro que a netinha. Se arranhou todo, chutou muito toco, pulou cerca, e lá estava ele. Pela sua natureza, foi logo ao ataque, com sua ignorância felina, derrubou a porta, e sobre a cama, debaixo do cobertor, estava a pobre e frágil senhora. Para ele era o ápice, a adrenalina era total, pois conseguiu enganar Chapeuzinho Verdade.
- "Ah, te peguei! Pensa que me engana! Você não é a vovó da Chapeuzinho Verdade nem aqui, nem na China. É coisa nenhuma! Você é o Lula disfarçado".
Babando de raiva, faminto, não titubeou, pulou em cima da cama, lambeu os beiços e engoliu a vovó. Foi ao Rio, se lavou, vestiu a roupa da vítima e se deitou no lugar dela. Incorporou a vovó. Não demorou, Chapeuzinho Verdade, eufórica pelo momento, bate a porta. Tentando se passar pela vovó, com voz trêmula e embargada, o bicho ruim fala:
- "Pode entrar, netinha querida, "talkey"? Eu estou descansando".
O Lobomausonaro sonhava com aquele momento. Era o auge de seu plano. Chapeuzinho Verdade, percebendo algo estranho, já ficou desconfiada. Ela começou a fazer perguntas para tirar suas dúvidas.
- "Vovó, diz uma coisa, por que a senhora falou "talkey"? Não me lembro de, em outras vezes, ter ouvido isto!".
Grosso, e sem educação, ele vai tentando enganar.
- "Sabe filha, é nada não, eu tenho visto muita televisão, ando muito perrengue nos últimos dias. Talkely?"
Não satisfeita, a garota já percebendo algo diferente questiona:
- "E por que o seu nariz é tão grande, vovó? Lá na escola dizem que nariz grande é por causa da mentira".
Tentando mostrar firmeza, o impostor rosna:
- "É para farejar o cheiro de corrupção, elas me deixam alucinadas... As dos outros, pois minhas são medicamentos para minhas recaídas".
Não satisfeita, a garota continua sua apuração:
- "Vovozinha, tô vendo que há alguma coisa diferente, por que essas orelhas tão grandes? Da outra vez elas estavam menores".
De novo o Lobomausonaro disfarça:
- "Não se preocupe, como disse, vejo muita notícia na televisão, as orelhas são para ouvir melhor as denúncias que fazem contra o Lula e sua gente, elas. são música para meus ouvidos…".
Percebendo a armação, ela insiste:
- "E por que tantos generais no quarto, na sala, na cozinha, vovó?".
Já cheio de tanta curiosidade, ele foi objetivo:
- É para te prender! Por...".
A ordem de prisão já havia sido dada pelo Lobomoro. Cumpra-se. Presa em flagrante, imediatamente, sob acusação de falsidade ideológica, disseminação de ideias comunistas, invasão de terra, perturbação da ordem e ameaça ao reinado de Lobomsusonaro, Chapeuzinho Verdade, se sentindo enganada, pede justiça, quer um defensor público. A tropa da casa era comandada por Lobomourão, um bicho acostumado a lidar com fogo na floresta, ele foi logo tentando apagar o incêndio:
- "Dentro das minhas prerrogativas, vou apresentar uma solução a contento. A gente te solta se você topar trocar esse chapeuzinho vermelho cheguei, esta estrela no peito, que você usa, por um lindo chapeuzinho verde-amarelo, símbolo da floresta. Topa? É pegar ou largar".
- "Guenta as pontas aí, vou perguntar pros cumpanheiros do sindicato".
- "E você, Lobomausonaro, o que acha?"
- "Preciso falar com o Lobomoro, eu só cumpro ordens", ele decide, "talkey?".
Chapeuzinho não aceitou, preferiu aguardar, pois tinha planos para o futuro, sonhos mais altos.