PENSANDO NO FUTURO

Com toda esta confusão produzida pela PANDEMIA, pelado Covid, por estar na fila, e vendo ela andar rapidamente, sabendo que é questão de tempo, até porque já me emplacaram com um 65, decidi tomar algumas medidas, resolvi radicalizar, afinal, como afirmou o grande filósofo Jair Messias, todos vamos morrer, então, quero sair da rotina de velório, vou fazer diferente. Meu último desejo! A primeira coisa, é que não quero ir para o caixão olhando para o infinito, com aquele olhar de peixe morto, isto já está muito batido, fora de moda, é de presunto brega, todo defunto tem a mesma pose para foto. Detesto pensar naqueles braços cruzados com uma flor na mão. Nunca fiz isto antes. pelo amor de Deus, não enfiem aqueles algodões nas minhas narinas, vão me sufocar, isto sem falar que vai aumentar a minha feiúra. É ridículo! Aquilo fica fazendo cócegas e não poderia coçar. Sem contar, que se eu der um último suspiro no caixão, aquilo vaia descer, causando muito desconforto. Por favor, me coloquem debruço, eu exijo, assim, não vou ver aquelas caras, algumas tristes, outras de bundão, tem aquelas de espanto, acho até que terão algumas de satisfação, falando coisas que nunca me falaram quando eu carregava meu corpo. Tem um amigo meu, um direitista convicto, e sei até o que ele vai cochichar no meu ouvido: "Já vai tarde!". Descanse em paz, nem pensar, pra onde vou não existe outra opção. Guarde para outra oportunidade. É ridículo, agora que eles vão me levar, acham que precisam lamuriar, é perigoso até eu chorar… de raiva! Não quero sermão, com o confinamento, estou de saco cheio de sermões de minha mulher. "Você não faz nada certo!", "Você mija fora do vaso!", "Aqui é uma casa, não é o céu!". "Carliiiiiinhos!". Chega! Não quero terno, esquece, pois me cansei deles, vistam um pijama bem fresco, sem bichinhos ou flores, pois a ventilação no subsolo não é boa. Também quero ser velado em pé, com esta tal quarentena, estou de saco cheio de ficar deitado ou sentado na frente da TV esperando, ela, a morte chegar. Se chegou, então vamos inovar. Outra coisa boa de ficar "discosta", é que não vai ter mosquito pousando na minha testa, seria duro não poder dar um tapa no sujeito. Também ficaria mais confortável para eu expelir meus últimos suspiros, ou melhor, gases, e se alguém quiser dar um beijo, que dê na bochecha… da bunda. Desta vez eu aceito. Se a morte for por Covid, por favor, não usem álcool em gel para borrifar o meu corpo, também já estou enjoado de tanto usar este produto, vai levar muito tempo para eu esquecer o odor, vou vomitar com o cheiro. Ia me esquecendo, já que a máscara é obrigatória, que coloque, pelo menos ela será minha defesa, vai que lá na Cidade dos Pés Juntos tem outra variante da Covid! Outra coisa, exijo cova circular, e ser colocado de pé, entendeu? Em pé! Não quero correr o risco de uma temporada de chuva me forçar a ter que ficar boiando numa cova comum, outra exigência básica, que minha nova casa seja debaixo de uma árvore, a sombra vai me refrescar a memória. Não coloquem placa, ninguém precisa ir lá me perturbar ou oferecer plano de saúde. Tem mais, não esqueçam de colocar meu celular no bolso, faço questão de receber todas as chamadas de financeiras, bancos e políticos pedindo votos. Bloqueem todos os meus contatos no ZAP, já recebi mensagem demais, deixa as próximas só para os contatos imediatos dos espíritos que vão me rodear. Sei também que vou ouvir muitas besteiras deles, tem muito viciado em redes sociais esperando o próximo vizinho chegar. Vai ser só descer a urna no buraco, que alguém vai falar: "Me passa seu ZAP". Por último, que minha nova casa seja bem distante das demais, não quero vizinho chato tocando aquelas músicas chatas, aqueles funks ou aquelas músicas bregas evangélicas dizendo que "vai chover" ou que "vai descer" fogo, quero tranquilidade. Flores? Nem pensar! Com a prisão domiciliar que o vírus me impôs, tive que virar jardineiro, já ficou de bom tamanho, não quero gastar tempo cuidando delas, tenho outros projetos. Só mais um pedido, no dia dos finados, hic! nome feio, não me visitem, não quero ser perturbado, afinal, um sono tão longo não merece ser quebrado, até porque, de novo, vão ficar falando abobrinhas na porta de minha residência. Se aparecer alguém, vou processar por perturbação do silêncio. Então… que a fila ande, e se você quiser trocar de lugar comigo nela, podemos conversar, não tenho pressa, e como sei que você é um tremendo pão duro, compro o seu lugar no fim da fila por uma boa grana. Se aceitar, pode me mandar uma mensagem no privado, pois se minha mulher ver, ela vai apagar, pois ela tem pressa que eu viaje, até minhas malas ela já preparou. Olha o que ela disse: "Benzinho, já coloquei desodorante, cueca, lenço, meias, coloquei até aquela caixa de Viagra, vai que por lá pinta um clima". Resta agora aguardar, ou guardar o lugar na fila, e tem mais, só para terminar, abro mão da tal "Fila Preferencial", sou velho, mas bobo é que não sou… Inté! Uai! Pode passar que a vez é sua, boa viagem! Te vejo lá!