O PASSAGEIRO DO ALÉM
Ronaldo José de Almeida
Pelópidas, assim que completou dezoito anos, matriculou-se numa auto-escola, preparando-se para tirar carteira de motorista.
A bem da verdade, Pepé, como era conhecido e assim se apresentava, pois detestava o nome, já sabia dirigir muito bem, contudo precisava de aula teórica para fazer o teste.
Aprovado e com a carteira de motorista na mão, passou a trabalhar com o pai, Sr. Gumercindo da Paixão, revezando-se com ele na parte da tarde e ainda trabalhando à noite no táxi.
Tudo corria bem, Pepé enfrentava o serviço animado. Tinha o carinho dos colegas e estava ganhando bem.
Quando não tinha “corrida”, ficava conversando no “ponto” com os amigos. Assim passava o tempo.
Certa noite, Pepé apanhou um passageiro vestido de preto que lhe indicou a direção do cemitério. Era aproximadamente meia-noite. No trajeto, o estranho senhor perguntou ao motorista:
- O senhor conhece o Altamiro Leitão?
- O Tatá?Sim, conheço. Ele tinha acabado de sair quando senhor chegou lá no ponto - respondeu-lhe Pepé.
- É um grande amigo. Diga a ele que estou lhe mandando lembranças - falou o passageiro.
- Está bem, falo sim - concluiu Pepé.
Quando o carro aproximou-se do cemitério, o passageiro mandou parar.
- É aqui que eu fico, meu amigo. Cobre aqui - frisou o passageiro estendendo-lhe uma nota.
- Obrigado, moço... Como é mesmo seu nome? - Pode me chamar de Ubaldo. Tchau - respondeu-lhe o passageiro.
De dentro do carro, o motorista ficou observando o estranho passageiro. Viu perfeitamente quando ele caminhava para o portão do cemitério, nele adentrando-se. Contudo, parou e deu uma olhada na direção do táxi.
Pelópidas, ao ver o homem entrar no cemitério, arrancou com o carro em alta velocidade, em poucos minutos estava no ponto dos taxistas. O Altamiro Leitão já tinha voltado da “corrida” e conversava com outro taxista.
- Tatá. Tatá – Gritou Pepé.
- Que foi, homem, parece que viu o diabo - exclamou Alcebíades.
Pelópidas narrou o acontecido aos colegas, contou com detalhes e acrescentou outros que não havia. - Sabe, Tatá. O homem tinha os olhos vermelhos que brilhavam!
De repente, os dois colegas caíram na risada, deixando Pepé sem nada entender.
- Qual o motivo disto? Estão rindo de quê? Estou dizendo a verdade. O que lhes contei é verdade - falou, nervoso, o mais novo motorista daquele ponto.
- Eu sei, eu sei, meu amigo – disse-lhe Tatá, continuando: - O moço que você levou, e agora está achando que é alma do outro mundo, é o nosso amigo Ubaldo, o velho Baú, zelador do cemitério, ele mora lá mesmo, tem uma pequena casa lá nos fundos.