Pragmatismo lusitano
O português encantou-se com a Bahia. E nem precisou recorrer a figuras como Vieira, Gregório de Matos, Caimmy, Castro Alves. Foi Caetano, Gil e Bethania e, naturalmente foi indulgente com as iguarias, do acarajé ao quindim, com parada prolongada pela moqueca.
Só não chegou ao Bonfim. O bom fim mesmo veio antes de subir o Pelourinho. Procurou o banheiro mais próximo e tanto ali obrou que ao reerguer, atabalhoadamente, e ainda meio tonto de alívio, as calças, mal resistiu a olhar para trás antes de acionar o otoclisma...e o que viu:
Havia caído do bolso traseiro uma nota novinha de 50 euros e que agora jazia placidamente sobre a matéria fecal. Aborrecido com o incidente e a perda iminente, ralhou com os céus, indignado:
- Veja lá, ó pá, se eu vou meter a mão na porcaria para salvar uma mera cédula de cinquenta euros...Logo eu...jamais!
Mas entre a exclamação e o gesto da cruel despedida, surgiu-lhe o estalo, bem semelhante ao do pregador Vieira:
- Ó céus, por quê não pensei nisso, esta nota não justifica eu sujar minhas mãos com a sua salvação, mas...
E dito isso, sacou uma outra nota novinha de 50 euros e a jogou à sanita, completando a lucubração filosófica:
- Bem, agora sim, ó pá, começa a fazer sentido sujas as mãos, afinal, cem euros é uma boa soma...