Entrevista com o senhor Zero à Esquerda, candidato a prefeito - parte 4 de 5 - publicada no Zeca Quinha Nius
ZERO À ESQUERDA: Saiba que a imprensa tem de ser imparcial.
ENTREVISTADOR: Nós do Zeca Quinha Nius, o maior e melhor hebdomadário digital do orbe terrestre, somos imparciais, senhor candidato.
ZERO À ESQUERDA: Não me parece.
ENTREVISTADOR: Não entendemos, senhor candidato, o porquê da sua observação.
ZERO À ESQUERDA: Na minha observação não tem "porquê". Eu disse, simplesmente, uma frase bem simples, compostas de três palavras: abre aspas: Não me parece. E feche aspas. Nesta frase tem algum "porquê"?
ENTREVISTADOR: Não, senhor candidato. Queríamos dizer que a sua observação não procede; é injustificada, e absurda. Somos imparciais. Nenhum candidato a prefeito apoiamos.
ZERO À ESQUERDA: Espero que você não esteja faltando com a verdade.
ENTREVISTADOR: Não estamos.
ZERO À ESQUERDA: Não me forcem a recorrer à justiça eleitoral, e processar vocês; e jamais publiquem matérias que me desfavoreçam e favoreçam os meus concorrentes. Eu não as admitirei. Estou de olhos bem abertos ao que vocês publicam.
ENTREVISTADOR: Entendemos, senhor candidato. E conte com a imparcialidade e objetividade do nosso jornalismo.
ZERO À ESQUERDA: Não me dêem razões para processar vocês. Nenhuma.
ENTREVISTADOR: Senhor candidato, nós...
ZERO À ESQUERDA: Você me disse que eu não serei eleito prefeito...
ENTREVISTADOR: Não, senhor candidato, eu não disse que o senhor não será eleito; eu disse, senhor candidato, que não sabemos se o senhor será eleito prefeito.
ZERO À ESQUERDA: Se você disse que não sabe se eu serei eleito, então quis diz que sabe que o eleito será um dos meus concorrentes.
ENTREVISTADOR: Não, senhor candidato.
ZERO À ESQUERDA: É o que está implícito na sua afirmação.
ENTREVISTADOR: Senhor candidato, o senhor não me compreendeu.
ZERO À ESQUERDA: Você me diz que eu não compreendi o que você me disse, mas entendi, sim; entendi; e independentemente de você entender, ou não, que eu entendi o que você me disse, eu entendi, sei que entendi o que eu entendi. Deixemos esta questão para mais tarde, um para momento oportuno, e falemos da que falávamos: da crise econômica provocada pela epidemia decorrente do avanço indiscriminado do coronavírus.
ENTREVISTADOR: Sigamos.
ZERO À ESQUERDA: Antes de mais nada, temos de saber que o coronavírus é um bicho pequeno, muito pequeno, minúsculo, muito minúsculo, menor do que podemos imaginar que ele seja, tão pequeno que não o vemos; e não o vemos de tão pequeno ele é; se ele fosse dez vezes maior, seria, mesmo assim, pequeno, minúsculo, e invisível aos nossos olhos; e se cem vezes maior, ele seria, mesmo assim, menor do que teria de ser para que os humanos pudéssemos vê-lo; e se mil vezes maior, seria pequeno, pequeno demais, demasiadamente pequeno, tão pequeno que não poderíamos vê-lo. É o coronavírus um bichinho danado de pequeno. Ele entra no nosso corpo pela boca, pelo nariz, pelos olhos, pelas orelhas, pelos poros.
ENTREVISTADOR: Qual a sua proposta para evitar, senhor candidato, a crise econômica?
ZERO À ESQUERDA: Deportarei o coronavírus.
ENTREVISTADOR: Deportá-lo!?
ZERO À ESQUERDA: Sim.
ENTREVISTADOR: E como o senhor pretende...
ZERO À ESQUERDA: Assinarei um decreto em cujo texto decretarei a extradição do coronavírus, que terá, por bem ou por mal, de se exilar em alguma outra cidade.
ENTREVISTADOR: Mas nenhuma cidade irá acolhê-lo, senhor candidato.
ZERO À ESQUERDA: Aqui, nesta cidade, ele não viverá enquanto eu me sentar na cadeira de prefeito; isto é: ele jamais regressará a esta cidade; ele que procure uma que o acolha.
ENTREVISTADOR: E quanto à crise econômica!?
ZERO À ESQUERDA: Que que tem a crise econômica?
ENTREVISTADOR: Qual política o senhor, senhor candidato, pretende implementar para impedir o aprofundamento da crise econômica, que já está a causar alguns estragos nas contas públicas municipais?
ZERO À ESQUERDA: Que fique bem claro: Foi o coronavírus que causou o inferno astral que nos queima, que nos torra a paciência e as nossas economias, e não eu; que ninguém me venha, portanto, falar besteira. E digo mais: Não terei a obrigação de resolver problemas que eu não provoquei; eu irei solucionar, entenda bem, apenas os problemas que eu criarei.