O dedo indicador e a vaselina

Há décadas tenho em casa um grande pote de pasta de vaselina. Quantas utilidades diferentes já teve esse eclético lubrificante! Mas, substituído em suas aplicações e superado pelos concorrentes, andava esquecido no armário já há um bom tempo.

Enfim foi resgatado. Precisei da vaselina pra aplicar sobre antigas grades de ferro da casa da praia, pra tentar protegê-las da implacável maresia. Passei a tarde inteira espalhando a vaselina sobre as ásperas barras de ferro, já meio carcomidas pela ferrugem. Vangloriei-me com a patroa que tinha descoberto a melhor ferramenta pra realizar de forma eficiente e rápida a meticulosa tarefa: o dedo. E usei logo o indicador, por razões que talvez só o inconsciente soubesse explicar.

Mais tarde me dei conta de uma inesperada sequela do prolongado uso do indicador em tarefa tão inusitada: o uso excessivo corroeu minha digital, o celular deixou de reconhecê-la pra desbloquear o aparelho! Tive de, alternativamente, usar a senha codificada.

Constatei que ao dedo indicador não deveríamos, na atualidade, atribuir tarefas tão mecânicas como friccionar pasta de vaselina. Foram-lhe designadas funções mais sofisticadas, que dependem dos delicados sensores eletrônicos serem capazes de identificar com clareza a salvaguardada impressão digital.

Agora, prezado leitor que teve a paciência de ler o texto até aqui, vamos ter uma conversa honesta: você foi conduzido a este texto atraído pelo título, pensando tratar-se de outra coisa, não foi? Se foi, temos de reconhecer o quanto um título pode fazer toda a diferença.

É a vitória da aparência sobre a essência. Verdade que parece incontestável nos tempos atuais.